Benfica recusa explicar apagão na Luz e recebe críticas de adeptos

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O apagão não caiu bem no universo benfiquista Enric Vives-Rubio

Apagar as luzes do estádio e deixar o FC Porto a festejar o título às escuras no fim do jogo de domingo valeu duras críticas ao Benfica, não só por parte da polícia, mas também dos próprios adeptos. Muitos benfiquistas deixaram comentários nos sites de jornais e fóruns televisivos, confessando-se envergonhados com a situação, e alguns notáveis mostraram-se revoltados com quem mandou apagar as luzes.

“Perdemos o jogo e perdemos a honra”, reagiu, em declarações ao PÚBLICO, António Bagão Félix. O vice-presidente da assembleia geral do Benfica entre 1992 e 1994 qualificou o apagão como uma “vergonha” e uma “reacção rasca”, argumentando que “a força não se mede pelo músculo da represália” e que “a nobreza da instituição está acima de tudo”.

Gaspar Ramos, antigo responsável pelo departamento de futebol do Benfica, fez questão de salientar que Pinto da Costa, presidente do FC Porto, “não tem moral para criticar, porque já fez destas coisas no passado”, mas mostrou-se crítico com os responsáveis do Benfica. “Lamento que se tenham esquecido que dirigem um dos maiores clubes do mundo.”

Bagão Félix pediu mesmo que os órgãos sociais “abram um inquérito, para saber quem mandou apagar as luzes”. “O Benfica tem de se limpar desta situação vergonhosa. Se não o fizer, a direcção é conivente”, acusou o ex-ministro das Finanças, numa posição secundada por Gaspar Ramos.

O PÚBLICO tentou ouvir Luís Nazaré, presidente da assembleia geral do Benfica, que recusou fazer qualquer comentário. O silêncio foi, aliás, uma nota comum entre muitos benfiquistas conhecidos e também entre os próprios responsáveis do clube, que recusaram explicar quem decidiu apagar as luzes e por que razão o fez.

Rui Gomes da Silva foi o único dirigente a abordar o caso, na SIC Notícias. “Não faço ideia do que se passou. Hoje [ontem] não fui ao Estádio da Luz. E como o Jesus, não sou electricista”, disse o vice-presidente, que não se demarcou da situação, mas rebateu a ideia de que o acto mancha a reputação do clube. “A mim manchava-me era se o meu presidente tivesse sido acusado de fraude desportiva. Isso é que era vergonha”, disse Gomes da Silva, que remeteu ainda para a recusa dos portistas em entrar em campo de mãos dadas com crianças equipadas à Benfica e com o tratamento que os “encarnados” receberam nas visitas ao estádio do FC Porto: “Se tudo o que nos fizeram no Dragão tivesse a ver com rega e luz, eram grandes senhores.”

Este argumento, no entanto, não colhe junto dos mais críticos. “Como é que alguém, depois disto, pode protestar contra maus cheiro nos balneários, bolas de golfe e ataques pessoais”, acrescentou Bagão Félix, numa posição corroborada por Gaspar Ramos: “Não podemos condenar os outros e depois cometer actos idênticos”, disse o ex-dirigente, lembrando que há 20 anos foi vítima “de uma série de situações indignas nas Antas”.

António Pedro Vasconcelos também afirmou que o “Benfica tem de ser diferente e não pode retaliar, custe o que custar”, enquanto Medeiros Ferreira foi o único dos adeptos contactados pelo PÚBLICO que foi mais suave na análise da situação, considerando que os jogadores do FC Porto poderiam ter sido mais comedidos nos festejos.

O FC Porto, aliás, também criticou o rival, afirmando que o apagão foi o “exemplo mais vivo do ‘fair-play’ de alguma gente que gosta de parecer muito educada, mas a quem, mais cedo ou mais tarde, cai a máscara.”

Bem dura foi também a reacção da PSP. “Ao desligarem as luzes e ao ligarem a rega puseram em causa a segurança dos agentes da polícia em serviço no interior do estádio. Isso não pode voltar a acontecer”, criticou o subintendente Costa Ramos, numa declaração logo após o jogo. A PSP recusou ontem dar mais explicações sobre o tema.

O apagão foi o mais recente episódio na série de conflitos extra-futebolísticos entre FC Porto e Benfica, que estão a causar grande apreensão no meio. “Esta situação tem vindo numa escalada que é urgente parar”, alertou Carlos Paula Cardoso, presidente do Conselho para a Ética e Segurança no Desporto. “Tem de haver bom-senso e o exemplo tem de vir de cima”, concluiu.

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