O "faraó" Hawass volta a controlar a arqueologia egípcia

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Zahi Hawass

O "Indiana Jones do Egipto" está de volta. Zahi Hawass, o arqueólogo que se tornou uma vedeta internacional e que há muitos anos governa o património do país, à frente do Conselho das Antiguidades Egípcias, foi esta semana nomeado ministro das Antiguidades. Esta reviravolta soa quase a ressurreição do "faraó" da arqueologia no Egipto, que no início do mês se tinha demitido, entre acusações de que teria roubado peças do Antigo Egipto.

Hawass revolucionou a arqueologia egípcia, e com isso ganhou uma visibilidade enorme. Usa mesmo um chapéu à Indiana Jones e foi estrela de documentários para várias televisões, como a BBC, CNN, National Geographic, History Channel, Discovery. Envolve-se em projectos mediáticos, como a procura das tumbas de Cleópatra e Marco António.

Mas outros arqueólogos têm-no criticado - chamam-lhe ditador, diz o blogue da revista Nature dedicado ao Médio Oriente - por recusar qualquer opinião contrária à sua, e por manter uma rédea muito curta sobre as autorizações para realizar escavações arqueológicas no Egipto. É criticado também pelos laços que o ligam ao Presidente deposto Hosni Mubarak.

Tornou-se, portanto, um alvo óbvio na revolução egípcia. Em meados de Fevereiro, cerca de 150 estudantes de Arqueologia fizeram um protesto à porta do escritório de Hawass, a gritar "sai!", e a acusá-lo de não lhes dar empregos. Ele, numa entrevista colocada no seu blogue (DrHawass.com), diz que, "infelizmente, não pode dar emprego a ninguém", mas que criou "2000 estágios."

"São insectos"

Mas "durante a revolução iniciada em Janeiro, Hawass, que tinha sido promovido pouco tempo antes para um cargo semelhante ao que obteve agora, teve um comportamento algo errático. Primeiro, apoiou Mubarak na intenção de se manter mais seis meses no poder. E depois deu dados contraditórios sobre a segurança dos objectos do Egipto antigo que estão no Museu do Cairo e em locais arqueológicos do país.

Começou por dizer que o Museu do Cairo estava seguro, e depois anunciou que tinham sido roubadas peças, e finalmente que foram encontradas algumas.

Afinal, dizia ele a 31 de Março no seu blogue, foram apenas partidos 70 objectos. "Mas o museu estava às escuras e os nove ladrões não reconheceram o valor do que estava nas vitrinas. Abriram 13 caixas, deitaram os 70 objectos para o chão e partiram-nos, incluindo uma caixa de Tutankhamon, onde estava uma estátua do rei montado numa pantera, que se partiu. Mas estes objectos podem ser todos restaurados", garantiu.

Hawass passou a apoiar a revolução, após a queda de Mubarak. Mas nessa altura aumentaram as críticas - que numa entrevista colocada no seu blogue, datada de 6 de Março, diz serem acusações de que está a roubar objectos arqueológicos: "Como podia um homem que dedicou toda a sua vida a proteger e a promover as antiguidades ser acusado de as roubar?", interrogava-se.

Ao New York Times, por essa altura, dizia, indignado, que já não conseguia fazer o seu trabalho. "Estas pessoas são insectos, não são nada, o que me preocupa é a situação que pode ler no meu site" - a denúncia que fez, quando bateu com a porta, de que os armazéns de vários sítios arqueológicos estavam sem segurança, e a serem assaltados. Hawass escreveu à UNESCO, dando conta das suas preocupações, e esta agência da ONU emitiu um alerta, dizendo que os sítios arqueológicos egípcios estavam "em perigo", devido às pilhagens que estavam a sofrer após a revolução.

Mas a verdade é que sem Hawass à frente da arqueologia no Egipto se cria um vácuo de poder, disse ao NYT Christian Manhart, chefe da secção de museus e objectos culturais da UNESCO, que liderou uma missão enviada ao Egipto na semana passada. Por isso, não ficou surpreso com o regresso de Hawass, "o imortal", como lhe chamava o El País. Nunca ninguém o poderá acusar de ser modesto e o que ele disse do seu regresso foi que não pediu para voltar. "Mas não posso viver sem as antiguidades, e as antiguidades não podem viver sem mim."

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