Torne-se perito

Professores preparam regresso aos protestos

Ao mesmo tempo que os sindicatos agendam protestos, na Internet vão-se multiplicando as "sementes de revolta"

Mário Carneiro, do blogue O Estado da Educação e do Resto, chama-lhe "sementes de revolta" - um pouco por todo o país, em escolas dispersas, começam a ser subscritos abaixo-assinados ou aprovados documentos de crítica ao modelo de desempenho dos professores, classificado como "injusto", "confuso", "pesado", "subjectivo" ou "impraticável". Mas estarão de volta as grandes manifestações de rua? A própria Federação Nacional de Professores, que ontem anunciou uma série de manifestações, acredita que "ainda há muito trabalho a fazer".

Três anos depois das manifestações que puseram na rua mais de 100 mil professores contra a política de José Sócrates e da ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, a Fenprof anunciou ontem que, no dia 12 de Março, vai promover "uma grande manifestação de descontentamento e de exigência" no Campo Pequeno, em Lisboa.

"Se juntarmos sete mil ou oito mil pessoas, será bom; se tivermos de pôr colunas para os que ficarem de fora, será melhor. Estamos no início de um processo de luta que só pode crescer. Os professores e educadores só agora começam a aperceber-se da dimensão e impacte das medidas do Governo", diz Luís Lobo, do secretariado nacional da Fenprof. "As pessoas estão desiludidas com os sindicatos, que, por duas vezes, cederam no momento decisivo, fazendo acordos ou memorandos de entendimento que reduziram os resultados da luta a nada", contrapõe Mário Carneiro.

A mesma ideia - de que as organizações sindicais "frustraram as expectativas dos professores", nomeadamente quanto às alterações ao modelo de avaliação - é transmitida por autores de outros blogues cujas caixas de comentários servem de ponto de encontro de professores para debate sobre os problemas da Educação.

Críticas injustificadas

Octávio Gonçalves, do movimento Promova, sublinha que os delegados sindicais "terão de trabalhar muito para envolver os professores"; Miguel Reis, do blogue Movimento Escola Pública, admite que "se nota alguma descrença em relação aos resultados da luta"; Paulo Guinote, do Educação do Meu Umbigo, considera que "a falta de retorno efectivo do fortíssimo envolvimento anterior" é uma das explicações para as cautelas que agora detecta; Ricardo Silva, da Associação de Professores e Educadores em Defesa da Educação (APEDE), é o mais radical: "Para voltarem a ganhar as pessoas, os sindicatos deviam ir às escolas pedir desculpas por terem cedido", avalia.

As críticas não são consideradas justificadas por Luís Lobo, que diz que "é fácil escrever num blogue" e defende que o acordo falhou porque o Governo "não cumpriu o prometido". "Não trabalhamos por email ou por blogue, vamos, pessoalmente, escola a escola, alertar os professores, é um trabalho que dá frutos, mas não de um momento para o outro", contrapõe.

A reorganização curricular, a criação de mais "mega-agrupamentos", a alteração de regras em relação às horas extraordinárias e ao horário nocturno e a redução do crédito global de horas atribuído às escolas para que se organizem são alguns dos motivos de protesto. Mas aquele que tem justificado as tomadas de posição de professores nas escolas é o modelo de avaliação.

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