Um teleférico chamado desejo

Luís Filipe Menezes achou que era a altura certa para apontar solenemente Marco António Costa como seu sucessor na Câmara de Gaia, por isso é legítimo pensar que também considerou ser chegado o momento de pensar na sua própria candidatura à presidência da Câmara do Porto. Menezes tem esse desejo legítimo, diverte-se a encher e a esvaziar o tabu, e a menos que seja desviado para outro cargo mais aliciante, há-de fazer por o realizar.

De resto, as 13 inaugurações/apresentações que agendou para as duas últimas semanas, para comemorar esse número redondo dos 13 anos de mandato em Gaia, têm sido reiteradamente aproveitadas para insinuar comparações entre a gestão autárquica das duas margens do Douro ou para fazer críticas veladas à política do eterno rival Rui Rio, na Câmara do Porto. A coisa até começou com Menezes, no almoço comemorativo dos 13 anos de mandato, a fazer uma "defesa" assassina de Rio. Na prática, disse mais ou menos isto. Perante a crise, as autarquias podem fazer duas coisas: procurar ter as contas muito equilibradinhas - o que é "defensável", sublinhou; ou fazer obra, atrair grandes investimentos, estimular o desenvolvimento económico local e, ainda assim, manter o passivo controlado, como fez Gaia.

Ontem, sem nomear ninguém que ande a pôr imóveis em hasta pública, criticou a venda de património e defendeu que esse expediente, para equilibrar as contas no curto prazo, não é sustentável.

Na véspera, ouviu-se o seu vice-presidente considerar "inaceitável" que ainda não exista uma ponte pedonal entre Porto e Gaia - quando as duas câmaras não conseguiram sequer entender-se quanto às pontes preexistentes - e que faz falta mais cooperação entre os dois municípios.

No dia anterior, do alto do seu teleférico quase pronto, um projecto em que Rui Rio não quis embarcar, Menezes anunciou que tem Nuno Cardoso (que não terá grande afeição por Rio) a arquitectar um segundo teleférico entre o Arrábida Shopping e... o Campo Alegre, no Porto.

Menezes vai atirando estas ideias como se estivesse a empurrar um tapete enrolado que acabaria nos Aliados. Como se tivesse por certo que o mesmo projecto político será em breve poder nas duas margens. O que, para quem acredita que as duas cidades deviam ter, no mínimo, uma gestão concertada, até seria interessante.

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