Inflação acelera na Alemanha e coloca novo dilema à política monetária do BCE

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Trichet poderá ter uma estratégia que penaliza países como Portugal PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP

Na Alemanha, a inflação subiu mais que o esperado. Se o BCE se assustar, o problema pode passar para os países periféricos que ainda precisam de ajuda

a O ano que agora termina foi difícil para Jean-Claude Trichet e os seus colegas do Banco Central Europeu, mas 2011, com a economia europeia a mostrar que está cada vez mais a funcionar a duas velocidades, promete trazer ainda mais problemas.

Os indicadores económicos ontem conhecidos vieram mostrar que já há partes da zona euro a darem sinais claros de aceleração na actividade económica, na concessão de crédito e na inflação. Tudo indicadores que, vistos isoladamente, poderiam levar o BCE a ponderar uma retirada mais rápida da política expansionista que tem apresentado nos últimos anos, mas que têm de ser balanceados com os problemas de financiamento e crescimento que as economias periféricas do euro ainda revelam.

Ontem, a autoridade estatística alemã apresentou uma estimativa de inflação para Dezembro que surpreendeu todos os analistas. A taxa de variação homóloga deverá passar de 1,6 para 1,9 por cento, quando as previsões apontavam para uma estabilização deste indicador. Tudo indica que a rapidez da retoma económica alemã se está a repercutir nos preços de forma muito clara. No total da zona euro, onde a taxa de inflação se cifrou em 1,9 por cento em Novembro, já se aposta que a marca dos dois por cento (que é um limite para o objectivo de médio prazo do BCE) pode ser agora atingida.

Além disso, segundo as estatísticas ontem publicadas pelo BCE, a massa monetária em circulação (M3) - uma medida usada para verificar qual o dinheiro disponível para ser gasto em cada momento - registou uma subida de 1,9 por cento, quando as previsões apontavam para 1,5 por cento.

Todos concordam que os números actualmente disponíveis não são motivo para pensar que a zona euro está perante uma escalada incontrolada de preços que é preciso desde já travar. No entanto, a tendência de aquecimento da actividade que se regista na Alemanha pode dar argumentos àqueles que defendem que o BCE não deve ser tão agressivo na sua política monetária, não só ao nível das taxas de juro, mas principalmente na compra de obrigações dos Estados periféricos e na cedência de liquidez aos bancos de forma ilimitada.

O problema para o BCE é que recuar agora nessas medidas pode significar retirar o tapete a países como Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, onde o Estado e os bancos revelam problemas em financiar-se.

"A política monetária ou vai ser demasiado quente ou demasiado fria", afirmava ontem à Reuters um economista do banco ING, sintetizando o dilema que se vive actualmente em Frankfurt.

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