O cineasta Pedro Costa

Foto
Pedro Costa fez sete longas-metragens, cinco curtas-metragens e alguns trabalhos para serem apresentados no formato de "instalação". Vincent Kessler/Reuters

Não fez nenhuma longa-metragem em 2010, mas teve um ano intenso que incluiu uma retrospectiva na Tate Modern. Isso mostra a importância da sua obra.

Quem é?

Nascido em 1959, Pedro Costa é hoje um dos principais nomes do cinema português, e com Manoel de Oliveira um dos cineastas portugueses com maior expressão internacional. A sua primeira longa-metragem, O Sangue, de 1989, foi recebida como uma das mais belas primeiras obras do cinema português desde o princípio dos anos 60, quando Paulo Rocha e Fernando Lopes, com Os Verdes Anos e Belarmino, lançaram o Cinema Novo português. Com o seu segundo filme, Casa de Lava, que se estreou em 1994 e foi rodado em Cabo Verde, encontrou um universo que ainda não deixou de trabalhar: a diáspora cabo-verdiana e a imigração para Portugal, que está no centro de vários dos seus filmes posteriores, mormente os que rodou no Bairro das Fontainhas, em Lisboa. Foi por esses filmes, Ossos, No Quarto da Vanda e Juventude em Marcha (sem contar com algumas curtas-metragens), que se deu a sua descoberta internacional e, muito rapidamente, a sua consagração. Da Europa à Ásia e aos Estados Unidos, nas publicações especializadas e de tiragem curta, mas também nos mais prestigiados órgãos de comunicação mundial, o trabalho de Pedro Costa tem sido alvo de atenção e elogios - no New York Times, por exemplo, Manola Dargis escreveu, quando Juventude em Marcha foi mostrado na América, que se tratava de uma "raridade".

O que fez?

Fez sete longas-metragens, cinco curtas-metragens e alguns trabalhos para serem apresentados no formato de "instalação". Para além dos dois primeiros (O Sangue e Casa de Lava) e a Trilogia das Fontainhas (os citados Ossos, No Quarto da Vanda e Juventude em Marcha, devem mencionar-se Onde Jaz o Teu Sorriso Escondido?, um filme de 2001 que retrata o casal de cineastas Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (influências maiores de Pedro Costa) em pleno trabalho e é não só um espantoso testemunho da relação (afectiva e laboral) entre eles os dois, como um formidável manifesto pelo cinema enquanto arte de rigor artesanal e propriamente "manual", e Ne Change Rien, estreado em finais de 2009, que acompanha a actriz e cantora francesa Jeanne Balibar durante a preparação de um disco.

Ensaiou também a fronteira entre o cinema e outras artes, nos trabalhos para instalação ou numa curta-metragem, The End of a Love Affair, feita em colaboração com João Fiadeiro. Mas a importância do que Pedro Costa fez também se mede pelo que os seus filmes "fizeram fazer". No Quarto da Vanda, de 2000, que é um título capital e em larga medida fundador na relação do cinema com a tecnologia digital, deixou um rasto de influência detectável (com melhores ou piores resultados) em bastante filmes feitos nos últimos anos. E o conjunto da sua obra tem sido inesgotável fonte de inspiração para ensaístas e críticos do mundo inteiro - só nos últimos meses saíram volumes sobre Pedro Costa no Brasil e na Coreia do Sul. No final de 2009 foi editado Cem Mil Cigarros, volume que compila ensaios sobre a sua obra por autores como Jacques Rancière, Jonathan Rosenbaum ou Tag Gallagher.

Por que o escolhemos?

Sem dúvida que pela importância que a sua figura e a sua obra adquiriram no plano internacional, sendo Pedro Costa um dos nomes que mais fazem falar de Portugal no mundo inteiro. Em 2010 não estreou nenhum filme novo de longa-metragem - mas apresentou há pouco tempo, numa sala cheia do Centro Georges Pompidou em Paris, O Nosso Homem, curta-metragem que é uma "nova versão" de duas outras curtas, Tarrafal e A Caça ao Coelho com Pau. Mas sucederam-se, em 2010, as manifestações de apreço e interesse pela sua obra. Alguns exemplos muito concretos: uma retrospectiva na Tate Modern, em Londres, realizada no princípio do ano; uma retrospectiva itinerante, iniciada em 2009, por várias cidades dos EUA e do Canadá; a estreia americana de Ne Change Rien, que incluiu uma sessão pública de debate, em Nova Iorque, entre Costa e Jim Jarmusch, o "padrinho" do cinema independente americano; e a edição da Trilogia das Fontainhas pela editora americana Criterion, talvez a mais prestigiada editora de DVD em todo o mundo.

O que podemos esperar dele?

É mais fácil dizer aquilo que não vale a pena esperar de Pedro Costa: filmes "fáceis", filmes pouco exigentes, mundanidades, pirotecnia ou cedências ao gosto telenovelesco das multidões. Embora os EUA sejam um país onde o cinema de Costa encontra hoje mais atenção, é escusado pensar que alguma vez ganhará um Óscar - não se trata do circuito, nem é essa a medida, para os seus filmes, como não são para a generalidade dos grandes cineastas contemporâneos. Fora isso, podemos esperar o mais importante: mais filmes, a continuação de uma obra que é (já) fundamental no panorama artístico português. Podemos, talvez, esperar que os seus filmes sejam mais vistos no seu próprio país, e fiquem menos reféns dos preconceitos que toldam a percepção pública do cinema português. Tanto mais que a obra de Costa encerra uma dimensão ética com que Portugal pode ter alguma coisa a aprender - como dizia numa entrevista recente à revista Sight & Sound, "o cinema não é um luxo, não é só feito para pessoas muito ricas e muito glamorosas - pode ser feito com menos dinheiro e pode ser feito com justiça".

Sugerir correcção
Comentar