SEDES: 40 anos

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Nos tempos de aperto económico é ainda mais gratificante saber que em Portugal há pessoas e instituições solidárias

A SEDES celebra 40 anos de actividade. O passado da SEDES é uma responsabilidade para todos nós; o presente e o seu futuro são a razão da sua existência. Vejamos a responsabilidade e o seu futuro.

Há cerca de 40 anos a SEDES foi fundada por 147 Cidadãos determinados na mudança em Portugal. Vivíamos a "primavera marcelista" e, com a coragem necessária, estes fundadores estavam empenhados em participar civicamente no desenvolvimento económico e social do País. A SEDES passou a ser, simultaneamente, uma alternativa ideológica ao regime não democrático e uma alternativa às correntes de feição marxista radical. Não por se querer constituir como partido, aliás impossível na altura, mas no debate ideológico das políticas a serem seguidas para a resolução dos problemas nacionais.

Com a vida democrática em pleno funcionamento e os vários partidos amplamente implantados, muitos se interrogaram sobre a necessidade da existência da SEDES. Apesar de algum período de menor actividade, no entanto, ela continuou a existir e a ter o seu papel de relevância nacional. Não deve ter existido nenhum governo democrático que não tenha tido um membro da SEDES, o que, para uma associação aberta como a nossa, é revelador da elite de serviço que constituem os nossos associados. E houve ainda, por exemplo, excelentes trabalhos sobre políticas em contexto europeu, sobre a justiça ou sobre a educação.

Mas as gerações mais recentes olham com descrédito a actividade partidária, embora curiosamente sejam mais participativos do ponto de vista cívico. E, apesar do desalento que todos vamos experimentando, é com alegria que verificamos este ressurgir da cidadania nos mais jovens. Por tudo isto o papel da SEDES é, hoje e no futuro próximo, muito importante para organizar a esperança, levantando as questões, debatendo soluções e tomando posições, para além do debate partidário.

A SEDES pretende organizar e mobilizar parte da sociedade civil para as grandes questões nacionais. Foi este o propósito do actual Conselho Coordenador em que tenho a responsabilidade de ser Presidente. Para tal era necessário estabilizar financeiramente a organização: está feito. Dar-lhe relevância cívica: tem sido realizado. Por último, garantir a sustentabilidade da organização: está em vias de estar assegurada com actividades relevantes para o País.

As tomadas de posição da SEDES, da responsabilidade do CC, e do seu grupo de trabalho sobre questões económico-financeiras - constituído por Medina Carreira, Henrique Neto, João Salgueiro e eu próprio - têm tido o impacto desejado. Os ataques pessoais que sofremos foram a prova da sua importância. Com Pedro Pita Barros a coordenar, iniciámos, há 2 anos o blog da SEDES (blog.sedes.pt), com características inovadoras e é hoje um fórum importante de debate desde a cultura e a política à economia. Organizámos o IV Congresso da SEDES, há 18 meses, onde apresentámos uma auditoria da qualidade da nossa democracia. Os seus resultados foram preocupantes e tiveram grande impacto público. Pedro Magalhães contribuiu para um trabalho inovador no País. Tudo isto está no sítio da SEDES: www.sedes.pt.

Mas a Associação continua a trabalhar noutros domínios. Recentemente co-organizámos, mais uma vez, a Semana Global do Empreendedorismo sendo em Portugal a abertura mundial para 103 países. Luís Barata, novamente, foi um empreendedor da ideia do empreendedorismo.

Tudo isto foi possível porque tivemos apoios fora do Estado e do Governo para mantermos a nossa independência. A Deloitte, a Flad e a NOSSA, concederam-nos os apoios para a realização do Congresso; e a Fundação Gulbenkian, a CGD, o Millenniumbcp, o BPI, a Jerónimo Martins e o Esporão para a renovação da nossa sede. O nosso jantar dos 40 anos, que tem lugar hoje sexta-feira, vai ter uma venda-leilão de artistas que nos doaram excelentes trabalhos. Vale a pena salientar os seus nomes: Cristina Ataíde, Ilda David, João Queirós, Jorge Molder, José Pedro Croft, Manuel Casimiro, Miguel Branco, Miguel Palma, Pedro Calapez, Rui Sanches, Sofia Areal. Nos tempos de aperto económico é ainda mais gratificante saber que em Portugal há pessoas e instituições solidárias.

No imediato temos de iniciar debates na nossa sede renovada e com convidados relevantes, sobre o futuro de Portugal. Debater problemas mas acima de tudo promover soluções e falar das perspectivas para o País. Não cabe à SEDES apresentar programas para a governação -isso é para os partidos- mas alertar para problemas e promover soluções alternativas. O ensino, a justiça, o mar, o empreendedorismo, o bloqueio da sociedade e da democracia, a revisão constitucional, o papel do Estado numa sociedade aberta... são tudo debates a reiniciar.

Os nossos jovens terão na SEDES um lugar de encontro de intervenção cívica, com o mesmo espírito dos fundadores: uma sociedade aberta e plural. A sustentabilidade da nossa Associação estará assim assegurada e o trabalho da actual Comissão Coordenadora será, então, passar o testemunho. Se o nosso passado é uma responsabilidade para todos nós, o que estamos a fazer e a refundar é o nosso futuro e a razão de ser da SEDES. Professor universitário

Nota: Não poderia deixar de salientar, na avaliação da OCDE, a grande melhoria dos resultados na educação dos nossos jovens. É um passo muito importante e penso que o investimento no ensino pré-escolar iniciado há 15 anos está a dar os seus frutos nos jovens de hoje.

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