Torne-se perito

O poder de Pequim não está nas armas

O homem que foi eleito a pessoa mais poderosa do mundo pela revista Forbes chefia um país onde o orçamento militar aumentou 7,5 por cento este ano. Mas Hu Jintao tem tentado convencer o mundo de que a força da China é outra: "A cultura da China é o seu soft power", diz o Presidente.

Quando se fala do soft power chinês não se fala apenas da proliferação dos Institutos Confúcio, que promovem a cultura e a língua (entre 2004 e 2009 foram criados 282, em 87 países). Pequim lança "operações de charme" em África e na América Latina com empréstimos a juros baixos, constrói infra-estruturas; ninguém envia mais "capacetes azuis" para as missões de paz das Nações Unidas.

Mas o que defende realmente a China? "O confucionismo pode ser a principal tradição política da China, mas quais são os principais valores confucionistas com o potencial de tornar o mundo num lugar melhor?", interrogava-se Daniel A. Bell, professor de Filosofia Política da Universidade Tsinghua, em Pequim, num artigo publicado em Setembro no New York Times. "A China não fez um bom trabalho a exportar os seus valores políticos para além do Este Asiático." O analista adianta que se é verdade que o regime tenta agora tornar-se numa meritocracia, também não tem vendido com êxito as vantagens do mérito nos países em desenvolvimento. E adianta: "Está na altura de a China se empenhar no diálogo global sobre valores políticos nos seus próprios termos."

Há quem diga que, em todo caso, a reputação que o regime conquistou mudou radicalmente. "A transformação da imagem da China deve-se a vários factores. Tem beneficiado de vários passos em falso dos Estados Unidos, incluindo a sua reacção lenta à crise financeira e à miopia de contraterrorismo pós-11 de Setembro", escreve Joshua Kurlantzick num artigo do Carnegie Endowment for International Peace. "Mas deve-se também ao aumento do seu soft power - a capacidade da China de influenciar pela persuasão e não pela coacção. Este atractivo pode expressar-se por vários meios, incluindo a cultura, diplomacia, participação nas organizações multinacionais, acções empresariais no estrangeiro e o poder gravitacional da força económica do país."

O poderio militar chinês é inquestionável, diz Erich Follath na revista alemã Der Spiegel, acrescentando que "os chineses estão num processo de conquista do mundo". E vai mais longe: "Pequim está a lançar uma guerra contra todos os continentes, mas não no sentido clássico." Em vez de armas, usa canetas para assinar acordos.

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