O espartilho do PEC e a linha da Trofa

O adiamento da extensão da rede do metro do Porto até à Trofa é uma decisão, caso venha a confirmar-se, da mais elementar racionalidade e bom senso. A crise tem destas coisas. Pelas piores razões, a Metro do Porto foi forçada, devido ao espartilho que o malfadado Plano de Estabilidade e Crescimento impõe às empresas do Estado, a propor ao Governo o adiamento sine die deste investimento de 140 milhões de euros e de duvidoso retorno.

Existem várias razões para rever o plano de expansão da rede e os limites de endividamento das empresas, no actual cenário de retracção do investimento do Estado, é apenas uma delas, mas, seguramente, uma das mais importantes. Mas não é a única. Em troca da retirada dos 11 quilómetros de carris da Linha da Trofa, a Metro criou um serviço de transporte de autocarro que é utilizado por 400 pessoas. Na sua maioria, os utentes deste serviço não têm o Porto como destino final. Não custa nada acreditar que um serviço como o da Metro do Porto seja muito mais convincente do que o transporte público de autocarro e que o número de passageiros se multiplique. Mas seria altamente discutível que o mesmo fosse capaz de gerar o movimento necessário para justificar a sua existência. Acresce que o tempo de viagem de metro entre a Trofa e a Trindade ameaça tornar-se mais moroso que um percurso de comboio suburbano entre Trofa e Campanhã, na Linha do Minho. E não se trata apenas de uma diferença de minutos. É uma diferença de 140 milhões.

O prolongamento até à Trofa fazia parte do mapa inicial da rede do metropolitano e já foi adiado uma vez. A sua execução não se pode tornar uma realidade porque existe um compromisso político do Governo e porque o plano quinquenal da Metro assim o previa. Como diria o primeiro-ministro, o mundo mudou e as prioridades da rede também devem ser reponderadas em função das contingências de hoje.

Por outro lado, uma linha circular de metro, como as que existem na esmagadora maioria das redes de metropolitano, atravessando a parte mais densamente habitada do Porto e desatando o nó górdio da estação da Trindade, não tem passado de uma hipótese académica. A crise tem destas coisas: obriga-nos a repensar as prioridades. O espartilho do PEC pode ser um bom pretexto para isso.

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