Mortes baixaram em passagens ferroviárias

Entre 2000 e 2010 foram suprimidas 1350 passagens de nível e construíram-se cerca de 500 passagens áreas ou subterrâneas. Mesmo assim houve 49 acidentes

Ninguém diria que acabaria em tragédia a travessia da via-férrea que os dois idosos tinham iniciado na estação de Riachos (Torres Novas) no passado dia 9 de Junho. Afinal a recta era de cinco quilómetros e o comboio ainda vinha lá longe. O maquinista bem apitou, mas os velhotes discutiam entre si e pareciam não ouvir. Fernando Matos, 37 anos, funcionário da Refer, deu-se conta e atirou-se à linha para os tentar salvar, mas acabou colhido pela composição e morreram os três.

Este foi o último acidente em Portugal numa passagem de nível. Em 2009 morreram 17 pessoas em atravessamentos rodoviários do caminho-de-ferro, das quais seis delas num único acidente. É um número que tem vindo a baixar, graças a um conjunto de intervenções da Refer que tem levado ao encerramento de passagens de nível, à automatização de outras e à construção de desnivelamentos para que pessoas e viaturas passem por cima ou por baixo da via-férrea.

Entre 2000 e 2010 foram suprimidas 1350 passagens de nível e construíram-se cerca de 500 passagens áreas ou subterrâneas, tendo-se ainda instalado barreiras e automatismos visuais ou sonoros de segurança em 569.

Esta actuação, que representa um investimento de 290 milhões de euros na última década, trouxe Portugal para uma densidade de 0,42 passagens de nível por cada quilómetro de via-férrea, um valor que já é inferior ao valor de referência europeu (0,5 passagens de nível por quilómetro).

Na prática isto traduziu-se numa redução de dois terços do número de acidentes ferroviários deste tipo. A Refer diz que se cumpriu o objectivo estabelecido nas Grandes Opções do Plano (2005-2009) de reduzir para metade a sinistralidade nas passagens de nível face a 2004. Infelizmente, o número de mortos não desceu na mesma proporção e ficou-se por metade.

Apesar da evolução positiva, a Refer tem uma nova meta e pretende em 2015 reduzir o número de acidentes em 60 por cento por referência ao ano de 2005, ou seja, menos de 29 acidentes num só ano.

É por isso que a empresa respondeu ao desafio da União Internacional dos Caminhos de Ferro (UIC) que, em conjunto com a Comissão Europeia e as Nações Unidas, comemora hoje o Dia Internacional para a Segurança em Passagens de Nível. Numa sessão a realizar hoje de manhã na estação do Rossio, será apresentado um balanço da campanha Páre, Esculte, Olhe e novas acções de sensibilização para promover comportamentos seguros.

Segundo a UIC, na Europa morrem, em média, cerca de 600 pessoas por ano neste tipo de acidentes, sendo que 95 por cento são da responsabilidade de peões ou de condutores. Susana Abrantes, da Refer, diz que os idosos são também nesta área um grupo de risco. "Outro dia, em Xabregas, vi uma senhora idosa, de muletas, atravessar a linha com o sinal vermelho, as barreiras fechadas e o sistema sonoro a apitar", diz, lamentando a falta de atenção das pessoas. Um fenómeno emergente é o dos jovens que, ao usarem auriculares, ficam menos atentos aos sinais exteriores e correm maiores riscos. Contrariamente ao que geralmente se pensa, a maioria dos acidentes em passagens de nível envolve utilizadores habituais que, graças às rotinas diárias, baixam as defesas e se tornam imprudentes, o que pode vir a revelar-se fatal.

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