Crise económica pode levar Grécia e Turquia a enterrarem o machado de guerra

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Papandreou e Erdogan ontem em Atenas YIORGOS KARAHALIS/REUTERS

Erdogan faz visita a Atenas com uma delegação de ministros e empresários; países dispostos a cortar nas despesas de armamento

A crise que ameaça arrastar a Grécia para o fundo pode ser o momento de reconciliação com o seu vizinho e eterno rival e inimigo de eleição, a Turquia. A visita do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, ontem e hoje, a Atenas, é já "um grande passo em frente na promoção das relações bilaterais", como dizia o comunicado conjunto divulgado ontem, ao fim do dia.

Enterrar os machados de guerra dos dois países, ambos membros da NATO, e que estão entre os que mais gastam na compra de armamento, convém tanto ao socialista George Papandreou como ao pós-islamista Erdogan.

O grego iniciou em 1999 uma abertura após um tremor de terra que fez grandes estragos e muitas vítimas na Turquia, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros. Agora, precisa desesperadamente de fazer cortes para que o défice, que no ano passado atingiu 13,6 por cento, seja só de três por cento em 2014, para cumprir as condições impostas pelo empréstimo de 110 mil milhões de euros do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dos países da União Europeia.

As despesas militares do país, que em 2010 devem representar 2,8 por cento do PIB - uma das taxas mais elevadas da UE - são um alvo óbvio a abater, e já apontado pelo presidente do FMI, Dominique Strauss-Khan.

Na Turquia, os problemas gregos são encarados com simpatia: em 2001, o país passou por uma crise de défice público semelhante, que obrigou também a recorrer ao FMI. "Queremos mostrar a nossa solidariedade. Com paciência, a Grécia pode ultrapassar esta crise. Devemos entreajudar-nos, pois as nossas economias são complementares", ofereceu Erdogan na véspera da sua chegada a Atenas, em declarações à televisão pública grega NET.

Numa visita digna de um verdadeiro sultão, com dez ministros a acompanhar Erdogan, e uma delegação de uma centena de empresários, o que ontem foi institucionalizado foi a criação do Conselho Superior de Cooperação Greco-Turco. Reunir-se-á uma vez por ano para desenvolver as relações entre os dois países. A inspiração é o conselho franco-alemão.

E as armas, a normalização das relações destes dois países que já partilharam territórios e partilham culturas, mas partilham também rancores e desconfianças? Em 1996, quase entraram em guerra por causa de uma ilhota, Imia, um rochedo deserto no mar Egeu. As provocações - voos diários de caças turcos sobre águas territoriais gregas, por exemplo - criam um ambiente de irritação.

Mas para o Governo turco, deixar de alimentar a escalada do armamento, pelo menos no que diz respeito à frente do mar Egeu, não é má ideia.

"É tempo de reduzir as despesas militares da Grécia e da Turquia", lançou Egemen Bagis, ministro encarregado das negociações da adesão à UE, acrescentado que nenhum dos dois países precisa de "submarinos franceses ou alemães".

Paz entre os dois rivais pode levar a uma solução do dossier de Chipre, que inquina a adesão da Turquia à UE. Por outro lado, a perda de influência dos militares em curso na Turquia é um impulso para a normalização de relações com a Grécia.

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