AR a meio gás diz que apoia moradores, pelo menos em teoria

Assim que terminaram as votações regimentais do meio-dia, dezenas de deputados da Assembleia da República levantaram-se dos seus lugares e entregaram-se sem pudor a ruidosas conversas com os colegas do lado. Com mais ou menos pressa, quem sabe prestes a partirem para um fim-de-semana de quase três dias, foram abandonando a sala, deixando a apreciação de duas petições entregues por milhares de cidadãos aos representantes dos partidos que se pronunciariam sobre elas, perante os poucos colegas que decidiram fazer-lhes companhia.

Foi assim, entre muitas cadeiras vazias, que os deputados dos vários partidos (excepção feita ao PS) foram dizendo que sim senhor, reconheciam razão às 5114 pessoas que subscreveram uma petição pedindo a criação da freguesia do Parque das Nações, enquanto se desdobravam em louvores à iniciativa. Depois de os ouvir a todos ficou claro que, por mais "legítima" e "justa" que seja a pretensão dos moradores e comerciantes, como a classificaram respectivamente Artur Rêgo (CDS) e António Leitão Amaro (PSD), ela não terá qualquer efeito prático.

Até porque, afirmou o deputado Bernardino Soares (PCP), para que o Parque das Nações se tornasse freguesia seria necessário que as câmaras de Loures, que para tal teria que abrir mão de parte do seu território, e de Lisboa concordassem com a iniciativa. Nesse sentido, a bloquista Rita Calvário lançou o desafio ao PS, partido dos presidentes de ambas as autarquias, para que "resolva de uma vez por todas este problema, que afecta gravemente a qualidade de vida das populações".

Já José Luís Ferreira (PEV) destacou que com a integração da zona entre Cabo Ruivo e o rio Trancão numa só freguesia, problemas como a falta de transportes públicos e de equipamentos educativos e de saúde "podiam ser substancialmente atenuados".

O PS foi o único a defender que "estão longe de serem verificados os requisitos" previstos no regime jurídico de criação de freguesias. E mesmo que estivessem, disse o deputado João Portugal, tal não é "oportuno" e deverá ser enquadrado numa reforma "integrada" do modelo administrativo da cidade. Esse enquadramento foi também defendido pelo centrista Artur Rêgo e pela bloquista Rita Calvário.

Sugerir correcção