Palavras da década - G

G

É a letra que descreve o ponto mais sensível da humanidade – o poder – e nela cabem as metamorfoses dos grupos informais reunindo as nações mais ricas do planeta. Ao princípio eram sete, como nos filmes do Oeste: EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão representaram o poder do capitalismo dominante e formaram o G7. Depois do fim da URSS, a Rússia juntou-se ao grupo, enquanto sombra da superpotência do passado, e nasceu o G8. Os seus encontros passaram a ser assinalados por enormes movimentos de protesto, uma moda iniciada durante uma cimeira da Organização Mundial do Comércio, em 1999, em Seattle. A crise económica de 2008 obrigou a um alargamento do “ponto G” do planeta que passou a reunir 20 países, incluindo potências emergentes como a China, a Índia ou o Brasil, ou poderes regionais como a África do Sul, a Argentina ou a Arábia Saudita. Entre o G7 e o G20, a ordem política mundial mudou. Em vez de representar o Ocidente mais o Japão, representa agora um novo equilíbrio de poder, que a resposta à crise económica global tornou viável.


M.G.
Galácticos

A palavra “galácticos” assinala a trajectória do Real Madrid na primeira passagem do presidente Florentino Pérez à frente dos destinos do clube. Beckham, Zidane, Raúl, Ronaldo, Roberto Carlos e, claro, Luís Figo não conseguiram vencer nenhum campeonato espanhol, mas foram os protagonistas de um projecto onde o marketing tinha um papel fundamental.


David Andrade Gato Fedorento

Fenómeno de culto desde o tempo em que se dividiam entre a blogosfera e a SIC Radical, conseguiram massificar-se sem perder a originalidade e a qualidade que lhes permitiram renovar o humor televisivo português. Inspirado no Daily Show, Esmiúça os Sufrágios levou mais longe os limites daquilo a que um político se pode expor em televisão. Incontornáveis.


M.G. Genéricos

Foram necessárias muitas políticas de incentivos e de promoção dirigidas a médicos, indústria farmacêutica e doentes para que os genéricos se começassem a impor em Portugal. Apesar de o primeiro diploma legal que regulou a sua produção datar de 1990, dez anos depois as quotas de mercado continuavam a ser absolutamente residuais, abaixo dos 0,5 por cento. Só na última década é que se assistiu a um crescimento significativo na venda destes medicamentos que permitem conter a despesa no sector. E este ano foi dado um passo decisivo para a sua afirmação, quando estes fármacos mais baratos do que os inovadores se tornaram gratuitos para os idosos com menos rendimentos. Em Outubro passado, uma em cada seis embalagens de medicamentos vendidos nas farmácias já era de genéricos.


Alexandra CamposGlobalização

A definição do termo globalização é bastante inócua e de tom positivo: fala do processo através do qual as economias, sociedades e culturas se vão tornando cada vez mais integradas, até virem um dia a transformar-se numa só em todo o globo, uma única rede de contactos e trocas multifacetados. Mas o mundo não é verdadeiramente plano, para citar o título de um livro de um ensaísta norte-americano que navegou nestas águas da história da globalização, Thomas Friedman, e foi durante esta década que ganhou corpo o movimento antiglobalização. A conferência ministerial da Organização Mundial de Comércio (OMC) de 1999, em Seattle, foi o momento de protagonismo deste movimento de interesses diversos, que junta pessoas preocupadas com o ambiente, descontentes com o sistema de patentes sobre produtos naturais, ideias políticas de esquerda mais à esquerda, direitos das mulheres e das mais variadas minorias. Mas, a partir daí, não há reunião do G8 ou da OMC que não conte com manifestações destas – por vezes violentas, como em Génova, em 2001, quando morreu um jovem de 23 anos.


C.B.

Googlar

É procurar alguma coisa no Google, o motor de pesquisa que “abalroou” todos os outros que existiam antes dele. Googlar mudou as nossas vidas. Apesar de sabermos que está cheio de ratoeiras. Aquilo que antigamente demorava horas, hoje pode demorar segundos. E dá-nos a sensação de termos um acesso rápido ao “saber” e até de nos tornarmos mais espertinhos sem sair de casa. Numa conversa que os escritores brasileiros Milton Hatoum e Chico Buarque tiveram na última Festa Literária de Paraty, no Brasil, falaram das pesquisas que fizeram para escrever os seus romances. No meio da discussão Buarque saiu-se com esta frase: “Na imaginação não existe tudo. Já estava no Google, no seu e no meu!”


I.C. GPS

Ter uma voz a dar as instruções sobre que caminho tomar e quando virar à esquerda ou direita numa estrada desconhecida já não é um cenário de ficção científica. Os dispositivos de GPS (sigla inglesa de Sistema de Posicionamento Global) tornaram-se comuns fora do meio militar para que foram concebidos. Nos táxis são já um instrumento frequente. E não falta quem os use nos carros particulares.


João Pedro Pereira Gripe

O receio de uma pandemia da gripe – como a de 1918, com 20 a 40 milhões de mortos – foi reavivado em 1997, quando o vírus da gripe aviária (H5N1) foi isolado pela primeira vez em humanos, em Hong Kong. Saltou das aves para os humanos, mas não chegou a transmitir-se facilmente de pessoa para pessoa (os mortos foram da ordem das centenas) e serviu para preparar planos de contingência. O receio ganhou peso este ano, com a gripe A (H1N1): mas, em vez das aves, o vírus veio dos porcos e, este sim, tornou-se pandémico. Até agora infectou 500 mil pessoas e provocou mais de 11 mil mortos (mais de 60 em Portugal). Ainda assim não foi tão grave como se temia.


T.F. Guantánamo

É Cuba, mas é Washington. Um pedaço de anacronismo, ainda uma fronteira da Guerra Fria. Renasceu para o mundo em Dezembro de 2001, quando se soube que para lá iriam os presos da “guerra ao terrorismo”, “combatentes ilegais”, “inimigos” sem direitos. Em Janeiro começavam a chegar os “piores dos piores”. Não eram. Dos iniciais 800, alguns dos quais até fizeram escala na Europa, sobram 200. Obama herdou o que a Amnistia Internacional chamou “gulag dos nossos tempos”. Quer fechá-lo, não tem dinheiro. Há muitos, mas o maior dos absurdos de Guantánamo é o dos uigures, chineses muçulmanos perseguidos e sem país que os queira. Bush mandou uns para a Albânia, Obama convenceu as Bermudas e o Palau a recebê-los.


S.L.
Sugerir correcção
Comentar