EDP deu resposta "tardia e insuficiente" às falhas na rede eléctrica

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Os estragos provocados nos postes de abastecimento pelo mau tempo deixaram inicialmente 350 mil pessoas sem acesso a energia Paulo Ricca

Em comunicado, a AsproCivil lamenta que cinco dias depois dos ventos fortes e da chuva intensa que afectaram quase todo o país, "ainda existam pessoas com a sua vida condicionada pela resposta tardia de algumas entidades, nomeadamente a EDP". Para a associação, a empresa terá que "rapidamente reflectir sobre a sua capacidade operacional para responder a situações destas ou ainda piores".

Criticando o facto de a EDP ter classificado de "inédita a situação em Portugal", a AsproCivil defende que "o que aconteceu não é de todo uma impossibilidade, pelo que a EDP deve trabalhar com probabilidades e com os devidos avisos e não só com os registos históricos". A associação dá como exemplo o sucedido a 18 de Fevereiro de 2009, quando "um evento em tudo parecido afectou a zona dos Concelhos de Cascais e Sintra e já nessa altura a resposta da EDP foi deficitária".

A AsproCivil sublinha que, caso se tivesse tratado de um sismo, uma cheia ou um tsunami, "a mobilidade estaria irremediavelmente comprometida, e mesmo a resposta tardia (aluguer de geradores) não seria aplicável", cabendo à EDP "a disseminação estratégica destes meios de forma a poderem garantir uma resposta com maior prontidão e qualidade".

"Fraca organização, planeamento e resposta dos Serviços Municipais de Protecção de Civil"

Além da EDP, a associação criticou ainda "a fraca organização, planeamento e resposta dos Serviços Municipais de Protecção de Civil", realçando, no entanto, a actuação dos municípios de Torres Vedras e Lourinhã "por rapidamente convocarem as respectivas Comissões Municipais de Protecção Civil e consequente activação dos Planos de Emergência Municipais, fazendo com que meios técnicos e humanos rapidamente fossem mobilizados para o terreno, na tentativa de minorar os danos e prestar o apoio necessário às populações afectadas".

Na madrugada da última quarta-feira, os ventos fortes e a chuva aiu provocaram danos em vários postes de abastecimento de electricidade, deixando 350 mil clientes da EDP sem energia, nomeadamente nos concelhos de Torres Vedras, Cadaval, Alenquer, Mafra e Lourinhã, na região do Oeste. Cinco dias depois, e segundo um balanço da própria empresa, 100 clientes continuavam na noite de ontem sem electricidade, apesar de a empresa ter mobilizado para o terreno centenas de técnicos.

Mau tempo pode voltar a quebrar o abastecimento eléctrico

Ângelo Sarmento, administrador da EDP Distribuição, fez ontem um novo balanço das operações de reparação. Argumentando que "quando estas situações [mau tempo] acontecem não há rede nenhuma no mundo que consiga resistir", o responsável adiantou que, em zonas rurais, a rede "está muito mais exposta" - em 80 por cento do país a rede eléctrica é aérea -, pelo que "não é possível garantir que uma situação destas não se repita".

Este risco já não surge nas principais cidades do país, onde a rede é subterrânea, explicou, mas condições meteorológicas semelhantes às de quarta-feira podem voltar a provocar quebras no abastecimento eléctrico, sobretudo em zonas rurais.

Segundo o director do despacho e condução da rede eléctrica da empresa, Vítor Tomás, entre a 1h00 e as 5h00 de 23 de Dezembro o mau tempo provocou, em média, picos de 60 a 70 avarias na rede e tiveram ser renovados 100 postos de transformação de média e alta tensão e 500 postos de baixa tensão (os que abastecem as residências). "Os estragos na rede foram muito elevados", sublinhou Vítor Tomás. Num universo de 500 mil clientes, ficaram sem energia 350 mil, dos quais 50 por cento viram o seu abastecimento reposto ainda durante o dia de quarta-feira. Segundo a empresa, os estragos podem traduzir-se em prejuízos no valor de dois milhões de euros.

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