Se juntarmos a isso o facto de, em "III", as canções, concisas na estrutura, curtas em duração, não se prolongarem em feitiçarias folk, dir-se-á então que os Espers se renderam ao convencional. Não negamos a evidência, mas também não lançamos os braços aos céus bradando "porquê deus meu?", desesperados por vermos perder-se mais uma banda nas garras da "normalidade". "III" é um grande disco, magnificamente equilibrado entre a gravidade da folk britânica (via Fairport Convention, como nos recorda a voz de Meg Baird) e a liberdade opiácea do psicadelismo californiano (o borbulhante rasto ácido das guitarras desemboca em Barry Melton, mago dos Country Joe & The Fish). É um disco clássico, mas apenas no sentido em que expõe devidamente as referências, outrora transgressoras (ainda transgressoras?), que lhe dão forma: Pentangle, Jefferson Airplane, Amon Düul. O resto, contudo, faz-se do prazer óbvio em procurar nas canções aquilo que as pode engrandecer: os violoncelos zumbindo em "Colony", o mellotron de "Another mood song", o órgão Rhodes vogando com a guitarra indefinida, aquática, de "The road to golden dust", com violinos irrompendo no final e as duas vozes, de Meg Baird e Greg Weeks, a complementar-se na criação deste belíssimo universo onírico para onde os Espers, apesar das formas mais definidas de "III", continuam a transportar-nos.
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