Corpo do antigo presidente cipriota Papadopoulos levado por desconhecidos

Foto
Os autores da proeza tiveram muito cuidado em não deixar pistas Andreas Manolis/Reuters

A televisão estatal interrompeu hoje os seus programas para fazer transmissões em directo a partir do local onde estava instalado o túmulo presidencial. O caso provocou reacções horrorizadas da população.

Um elemento da guarda do antigo Chefe de Estado descobriu o sacrilégio quando pelas 08h00 locais (06h00 da manhã em Lisboa) foi lá acender uma vela, como fazia todas as manhãs.

Ao saberem do que se estava a passar, os parentes deslocaram-se ao cemitério de Deftera, junto à capital da ilha dividida, Nicósia.

A polícia isolou o local, tendo entretanto chegado à conclusão de que a escavação do túmulo e a abertura da urna fora uma manobra muito bem planeada, uma vez que os autores da proeza tiveram muito cuidado em não deixar pistas.

Calcula-se que tenham sido necessárias três ou quatro pessoas para erguer a enorme pedra tumular e depois retirar do caixão os restos mortais do ex-Presidente Papadopoulos, horas antes do serviço fúnebre que ia assinalar o primeiro aniversário da sua morte.

Apesar de tudo, a família decidiu manter a missa de finados na igreja de São Nicolau, na localidade de Deftera, ao mesmo tempo que distribuía um comunicado a dizer que "a sua voz continuará a ser ouvida, esteja ele onde estiver".

Tassos Papadopoulos foi Presidente da República de Chipre (circunscrita à comunidade de língua grega) de 2003 a 2008 e levou os seus concidadãos de cultura helénica a rejeitarem um plano das Nações Unidas para que toda a ilha fosse reunificada.

Em Fevereiro do ano passado acabaria por ser derrotado nas urnas pelo actual Presidente, Demetris Christofias, do partido comunista AKEL, que relançou as conversações com os cipriotas turcos para que um dia toda a ilha volte a ser um só Estado, tal como o era no início da década de 1970, antes de a parte setentrional haver sido invadida pelo Exército turco.

O líder do partido de centro-direita DIKO, de Papadopoulos, Marios Garoyan, condenou este "crime terrível e hediondo" de se arrancar um cadáver do seu sepulcro; e o próprio Christophias falou de "choque e aversão".

Quanto ao líder da Igreja Ortodoxa local, o arcebispo Chrysostomos II, falou de "um acto de vandalismo contra um grande líder", falecido aos 74 anos, devido a um cancro de pulmão.

Na juventude, Papadopoulos pertencera à ala política da guerrilha EOKA, que combateu a administração colonial britânica e preferia que Chipre se unisse à Grécia, como já o tinham feito Creta e outras ilhas.

Sugerir correcção
Comentar