Duro golpe no ciclismo nacional com doping de Nuno Ribeiro

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A confirmar-se o resultado, Nuno Ribeiro vai perder a vitória na Volta dr

Testes positivos do vencedor da Volta a Portugal e de mais dois ciclistas da LS, 16 meses após escândalo que pôs fim à LA-MSS

a Não é a primeira vez (e muito provavelmente não será a última) e, no entanto, continua a apanhar-nos de surpresa, principalmente porque, nesta ocasião, não estamos a falar de desconhecidos distantes, mas sim de ciclistas do pelotão nacional. Ontem, o ciclismo português voltou a sofrer um duro golpe. Um não, dois, porque além de terem sido divulgados os positivos por CERA (EPO de terceira geração) de Nuno Ribeiro, vencedor da Volta a Portugal deste ano, Hector Guerra, o primeiro do contra-relógio de Viseu, e Isidro Nozal, foi anunciada a extinção da Liberty Seguros, formação representada pelos três. A bomba explodiu durante a madrugada, com um comunicado publicado no site da Liberty Seguros. Na página da seguradora pode ler-se: "A Liberty Seguros informa que retirou o patrocínio à equipa profissional de ciclismo, abandonando a política de apoio a esta modalidade, através do patrocínio directo a uma equipa. Hector Guerra, Isidro Nozal e Nuno Ribeiro, três ciclistas da equipa profissional de ciclismo Liberty Seguros, foram informados pela UCI (União Ciclista Internacional) sobre resultados positivos em relação à substância proibida EPO".
Os controlos aos três corredores foram realizados a 3 de Agosto, dois dias antes da partida para a Volta a Portugal, o que, caso a contra-análise confirme o consumo de substâncias dopantes, pode invalidar a vitória de Ribeiro na Volta, assim como o triunfo na etapa final de Guerra, e custar a todos uma suspensão de dois anos. Recorde-se que tanto o ciclista português como Isidro Nozal já viram os seus nomes associados a casos de doping (nenhum dos dois foi suspenso, tendo sido ilibados), tal como a própria Liberty, na sua vertente internacional (a Liberty Würth liderada por Manolo Sainz esteve no epicentro da Operación Puerto, o maior escândalo de doping organizado no ciclismo).
O dia mais longo da formação liderada por Américo Silva (que entretanto anunciou a retirada da modalidade) não haveria de ficar por aqui: Nuno Ribeiro remeteu-se ao silêncio, confirmando apenas a notificação por parte da UCI, Hector Guerra disse em comunicado ter sido "surpreendido pela notícia", declarando-se inocente e recusando qualquer prática dopante, e Isidro Nozal optou por não fazer quaisquer declarações. Mais: a Xacobeo Galicia prescindiu dos serviços do médico Alberto Beltrán pela sua ligação à equipa portuguesa.
Que futuro para o ciclismo?
Ninguém quer arriscar fazer futurologia (até porque ainda há uma contra-análise em espera para confirmar ou desmentir os resultados da amostra A), mas todos sabem que o caso Liberty é um "passo atrás" para o ciclismo nacional. A expressão, usada tanto por Joaquim Gomes, director da Volta a Portugal, como por José Azevedo, novo director da Radio Shack (a equipa da Lance Armstrong), descreve bem o estado de ânimo das pessoas envolvidas na modalidade, que vê mais uma vez a sua já frágil credibilidade afectada por casos de doping.
Enquanto Artur Lopes, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, prefere esperar pela análise B para reflectir sobre o futuro do ciclismo nacional, adiantando só que a situação "é triste e muito má para a modalidade" e prometendo que o organismo que lidera estará "preparado para lutar pela verdade desportiva", José Santos, director desportivo da Ma-
deinox-Boavista, não se escusou a dar a sua opinião. Santos, um dos mais experientes dirigentes nacionais, revelou ao PÚBLICO não estranhar os positivos dos três homens da Liberty, referindo os resultados "acima das suas capacidades" e apontou o dedo à federação, por "não tomar medidas mais drásticas" para evitar estes casos.
No entanto, nem mesmo José Santos acredita que o futuro do ciclismo nacional possa estar em causa: "O público que vem ao ciclismo gosta de ver espectáculo e não é isto que vai afastá-lo". José Azevedo seguiu a mesma linha de discurso, revelando optimismo em relação ao futuro: "Os patrocinadores continuarão a ver o ciclismo como um bom veículo publicitário e os apaixonados vão continuar a apoiar a modalidade".
"Espero que acabe por imperar o bom senso e que não se tome a parte pelo todo e se generalize a ideia de que todos são dopados", concluiu Joaquim Gomes.

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