Banca não financia em Leiria o tratamento de efluentes suinícolas

Bloco de Esquerda promove debate sobre despoluição da bacia hidrográfica do Lis, em Leiria, e a Quercus esclarece que o financiamento bancário está condicionado

a O dirigente da associação ambientalista Quercus Rui Berkmeier garantiu, na quinta-feira à noite, em Leiria, durante um encontro promovido pelo núcleo do Bloco de Esquerda sobre A bacia hidrográfica do Lis e as suiniculturas, que o financiamento para a construção da Estação de Tratamento de Efluentes Suinícolas (ETES), em Amor, naquele concelho, "ainda não está 100% garantido", devido a condicionalismos levantados pelas instituições bancárias.Berkmeier contou que pediu uma reunião à Águas de Portugal para solicitar esclarecimentos sobre os problemas de financiamento, já que, sublinhou, o secretário de Estado do Ambiente recusou conceder uma audiência às entidades envolvidas, por entender que não devia assumir esse papel. "Se não houver financiamento, volta tudo à estaca zero, pois teria de se fazer um novo estudo de impacte ambiental", alertou.
"O financiamento é uma encruzilhada, que está a tramar este processo. Não é o único, mas o principal. Mas há a possibilidade de recorrermos a outros financiamentos. Quanto menos dependermos de bancos, melhor", afirmou o ambientalista.
Recurso ao QREN
O presidente do Conselho de Administração da Recilis, David Neves, acredita que o projecto terá condições de ser financiado no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional. Contudo, esclareceu que, além da portaria ainda não ter sido regulamentada, a apresentação de candidaturas funciona por convite.
David Neves aproveitou para dar conta dos entraves que têm contribuído para atrasar a construção da ETES. "Ao longo deste processo, tivemos oito ministros do Ambiente e outros tantos da Agricultura e secretários de Estado. As coisas avançam e recuam em função das pessoas que estão nestes lugares." Mas lembrou que os empresários aguardam a publicação de legislação para licenciar a sua actividade há quase 20 anos.
Apesar de reconhecer que os suinicultores também são responsáveis pela poluição da bacia hidrográfica do Lis, David Neves lamentou que sejam sempre vistos como "arguidos condenados". E não escondeu as dificuldades sentidas pela Recilis em gerir os cerca de 2000 m3 de efluentes produzidos diariamente pelas suiniculturas de Leiria, devido à inexistência de soluções de tratamento e à escassez de área agrícola para fazer o espalhamento dos resíduos.
Membro da Associação de Defesa da Ribeira dos Milagres, Rui Crespo lamentou que os empresários do sector que efectuam despejos ilegais nas linhas de água e não respeitem os limites permitidos por lei para espalhar resíduos em solos agrícolas não sejam punidos. "Estamos rigorosamente como estávamos há 30 anos e ainda temos o problema agravado pela quantidade de suínos ser maior. E continuam a ser pedidos licenciamentos para a ampliação das instalações", denunciou.
"Houve um tempo em que se pensava que a natureza era um poço sem fundo, onde se lançavam toda a espécie de resíduos. Este poço tem um fundo muito curto. É preciso mudar hábitos e exigir aos responsáveis políticos capacidade reguladora e de planeamento", afirmou a deputada do BE Alda Macedo. A parlamentar defendeu o levantamento dos obstáculos políticos e das dificuldades sentidas pelas empresas para que o processo de despoluição da bacia hidrográfica do Lis não seja eternamente adiado.

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