Discriminação salarial entre homens e mulheres vai acabar no sector da cortiça

Acordo alcançado entre sindicatos e associação patronal abrange quase 5000 operárias, cerca
de 40 por cento
dos trabalhadores

a A discriminação salarial entre homens e mulheres que trabalham no sector da cortiça começará a ser ultrapassada a partir do próximo mês. O Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte e a Associação Portuguesa de Cortiça (APCor) sentaram-se novamente à mesa e chegaram a acordo para esbater essa distância - que chega aos 97,66 euros por mês -, ao longo dos próximos oito anos. As mulheres corticeiras, que representam cerca de 40 por cento da força laboral - 4800 em 12.000 trabalhadores com vínculo efectivo - começam a receber mais 12,21 euros mensais a partir de Junho. Um valor que acompanhará as eventuais actualizações salariais, de forma a que homens e mulheres que desempenham funções idênticas estejam a ganhar o mesmo ordenado em 2015. Uma medida que incidirá particularmente no concelho de Santa Maria da Feira, onde se situam 80 por cento das unidades produtivas de cortiça. "Independentemente de haver acordo relativamente ao contrato colectivo de trabalho, esta questão, que abrange as mulheres do sector, aplicar-se-á sempre", garante Alírio Martins, coordenador da estrutura sindical. A medida poderá só entrar em vigor quando as negociações do contrato de trabalho estiverem terminadas. "No entanto, há patrões que podem começar já a pagar a partir de Junho, se não, terão de o fazer mais tarde, mas pagando retroactivos a partir desse mês".
O sindicato do sector chegou a propor que a diferença salarial fosse esbatida na sua totalidade já este ano, o que não foi aceite pela APCor. "A discriminação no sector da cortiça existe há mais de uma década. O sindicato está satisfeito com este acordo porque é uma forma de fazer justiça. É fruto de muita luta", referiu Alírio Martins. "Foi o consenso encontrado para se chegar a um modelo em que os 97,66 euros são recuperados em oito anos", acrescenta.
A APCor sugeriu, por seu turno, que a diferença salarial fosse ultrapassada num período entre 10 e 12 anos. "Desde 1997 que esta questão está, de alguma forma, a ser trabalhada. Este ano, decidimos rever a metodologia de aproximação", adianta o director-geral da APCor, Joaquim Lima. "Estamos a falar de grupos distintos, mas há um entendimento de que hoje, com a evolução dos saberes e profissões, estes grupos estão mais aproximados em termos de responsabilidade", sublinha. De qualquer forma, a associação, que representa o patronato do sector corticeiro, continua a rejeitar a ideia de discriminação salarial. "Entre o grupo 14, maioritariamente de homens, e o 16, de mulheres, há uma diferença de 97 euros e, portanto, há essa ideia de discriminação, mas é uma ideia que não aceitamos". "O sector não quer viver com essa ideia de discriminação", diz o responsável. O desequilíbrio salarial chegou a originar uma vigília de 14 horas à porta da APCor, em Santa Maria de Lamas, a 13 de Julho de 2007. "Há casais que fazem exactamente o mesmo serviço. Ele ganha 626,5 euros, ela 527,5", adiantava, na altura, Alírio Martins. "No sector da cortiça há o feminino e o masculino e é preciso acabar com essa diferença", defendeu o dirigente sindical, que lembrava que o contrato de trabalho previa que homens e mulheres estivessem em grupos diferentes, a exercerem as mesmas funções, mas com salários distintos.
40%
As mulheres representam
40 por cento
da força laboral da indústria corticeira, centralizada
na Região Norte

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