Victorino d"Almeida escreveu para um "instrumento-elefante"

\uE06C A tuba não fica sempre escondida lá atrás, entre os metais da orquestra. Às vezes salta para a frente e pode ser um instrumento solista surpreendente. "Tem a delicadeza de um elefante", diz António Victorino d"Almeida, que compôs um concerto para tuba a pedido do tubista português Sérgio Carolino. A obra estreia-se hoje, às 21h, na Casa da Música, no Porto.O maestro e compositor Victorino d"Almeida afirma convicto que "Sérgio Carolino está entre os cinco melhores tubistas mundiais". Carolino reconhece que é um intérprete que deu outra amplitude ao instrumento: "Com a minha maneira de tocar criei uma linguagem própria e penso que pus a tuba no mesmo patamar de outros instrumentos. Talvez por isso muitos compositores fiquem entusiasmados quando me ouvem e me dediquem peças. São meus amigos e meus fãs."
Sérgio Carolino concorda com a imagem do "instrumento-elefante" e diz: "Sim, é isso. Tem o porte de um elefante mas é capaz de ter leveza e não esmaga nada quando caminha." O que significa isso musicalmente? "É verdade que tem força para destruir uma orquestra, mas a maior parte das vezes é discreto e moderado." É também um instrumento muito versátil. Para além da sua função habitual de acompanhamento e baixo da orquestra ("um "superbaixo"", diz Carolino), a tuba pode tocar partes solísticas e tem uma extensão muito grande, de cinco oitavas, que lhe permite fazer coisas "ágeis e incríveis", acrescenta.
Victorino d"Almeida diz que concebeu este concerto a pensar nas diferentes coisas que a tuba e este intérprete em particular podem fazer. "É um concerto arriscado. A tuba tem um grande poder de som mas não o pode usar sistematicamente senão seria apenas grotesco."
O compositor explica o que procurou fazer com esse risco: "Tentei que a tuba mantivesse a sua personalidade e as suas funções de dar confiança à orquestra, ser um instrumento modesto e ao mesmo tempo poder ter destaque, com partes solísticas difíceis. O Sérgio Carolino, nas cadências e mesmo dentro da orquestra, é capaz de verdadeiros malabarismos."
Para além do estímulo que foi escrever para um intérprete tão versátil, o maestro e compositor indica uma outra razão para ter aceite o desafio: "Nunca gostei dos concertos para tuba e orquestra que ouvi. Parece que não tinha sido achada a receita." Será que Victorino d"Almeida achou finalmente a "receita" neste concerto para o instrumento-elefante? É caso para averiguar hoje, na Casa da Música.
Orquestra Nacional do Porto
Marc Tardue (direcção musical)
António Rosado (piano)
Sérgio Carolino (tuba)
Obras de Ravel, Dohnanyi, Victorino d"Almeida e Strauss
Porto, Casa da Música (Sala Suggia)
Hoje às 21h

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