Best of dos anos 70

Estes foram, provavelmente, os temas que mais tocaram nas rádios portuguesas ao longo da década de 70, entre 1970 e 1979. O primeiro CD de Os Anos 70, Os Êxitos, é editado hoje, grátis com o PÚBLICO

a Se, em cada década dos últimos 50 anos, encontramos tendências distintas na música made in Portugal, o que é que os anos 70 poderão acrescentar a esta viagem pelo universo musical português? Antes reinava o yé-yé, depois deu-se o boom do rock português. E no entretanto? Resposta: gravaram-se grandes sucessos, quer no fado, quer na canção. Os Êxitos, o primeiro CD do volume Os Anos 70, recorda-os.Ainda durante o Estado Novo, o fado era presença obrigatória nas rádios. Frei Hermano da Câmara lançou, em 1970, o álbum Túnica Negra, que incluía vários fados de sucesso, como O Rapaz da Camisola Verde. No ano seguinte, Amália Rodrigues editou Oiça Lá ó Senhor Vinho, uma compilação de material publicado em single ou EP. O tema principal, homónimo, era uma nova criação de Alberto Janes, autor do fado Vou Dar de Beber à Dor.
Por sua vez, na música ligeira, estreavam-se grandes nomes. É o caso de Paco Bandeira que, em 1971, teve o primeiro êxito - A Minha Cidade, tema que se tornou popular como "Ó Elvas, ó Elvas". Rapidamente, o cantor alcançou outros sucessos discográficos que o levaram a percorrer o mundo, actuando junto das comunidades portuguesas.
Por outro lado, continuavam a afirmar-se intérpretes e compositores que ocupavam lugar de destaque na música portuguesa há vários anos. José Cid, membro do ex-Conjunto Mistério e do Quarteto 1111, é um dos exemplos. Em 1973, compôs para os Green Windows, grupo formado pelo Quarteto 1111, três mulheres dos músicos e a manager da banda, o hit 20 Anos. No pós-25 de Abril, em 1976, publicou a solo Ontem Hoje e Amanhã, premiada pela sua "composição notável" no Festival Yamaha, em Tóquio.
O Duo Ouro Negro, de Raul Indipwo e Milo MacMahon, mantinha-se igualmente activo e fecundo, com uma impressionante carreira internacional. Amanhã foi um dos temas de Blackground, álbum lançado em 1971, pouco depois de inúmeras actuações no Canadá, EUA, Angola, Moçambique e Japão.
Entretanto, em Portugal, sopravam ventos de mudança. A 25 de Abril de 1974 deu-se a revolução e a principal preocupação dos portugueses tornou-se a intervenção política. E a música? Que papel desempenhava nesta nova vida do país? "A certa altura, chegou a pensar-se que a revolução acabaria com o fado e com a música ligeira", explica David Ferreira, responsável pela selecção dos temas de 50 Anos de Música - O Melhor da Música Portuguesa, no texto que acompanha o volume. Porém, foi só um mau presságio.
Aliás, em 1974, associado à própria revolução, surgiu o mega-êxito Somos Livres (célebre como A Gaivota ou Canção da Gaivota). A canção era interpretada pela actriz Ermelinda Duarte, cuja carreira musical resume-se a este sucesso, e foi adoptada pela RTP, que fez dela um teledisco.
Mais tarde, Carlos do Carmo demonstrava que o fado não tinha morrido: o álbum Um Homem na Cidade (1977) é considerado a sua obra-prima discográfica. O Homem das Castanhas foi um dos seus grandes êxitos, a par de O Cacilheiro ou O Amarelo da Carris. Nesse ano, Cavalo à Solta, de Fernando Tordo, também invadiu as rádios, contando, tal como o fado de Carlos do Carmo, com letra de Ary dos Santos.
A encerrar a década, descobrimos Gabriela Schaaf. Concorrente ao Festival RTP da Canção de 1979, Eu Só Quero ficou classificado em segundo lugar, atrás de Sobe Sobe Balão Sobe, de Manuela Bravo. Apesar disso foi um sucesso comercial, conquistando entrada directa para Os Êxitos.

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