Torne-se perito

O passado foi lá atrás

Os dois filmes a concurso do dia são meditações sobre a passagem à idade adulta - e um deles, Falkenberg Farewell, é o grande filme da competição

Na Competição, além das "longas" referidas ao lado, exibe-se o terceiro programa de "curtas" nacionais (Forum Lisboa, 19h) e o segundo e terceiro programa de "curtas" internacionais (King 2, 18h15 e 21h45)

No Observatório, destaque para a repetição de A Scanner Darkly, de Richard Linklater (Forum Lisboa, 16h) e para o documentário de David Leaf e John Scheinfeld The US vs John Lennon (São Jorge 1, 21h45)

A secção IndieMusic apresenta o filme-concerto de Doug Bro e Jon Fine Herbie Hancock"s Possibilities (São Jorge 3, 18h45)
Recebe-se um programa de "curtas" seleccionadas pelo festival catalão L"Alternativa (Londres 2, 17h45)

Arranca a secção infantil Indie Júnior com um programa para crianças até aos três anos (São Jorge 1, 16h) a Está encontrado o primeiro grande filme a concurso no Indie2007. É um objecto de uma grandiloquente e melancólica beleza, uma primeira obra que é a epítome do home movie, rodada em super-16 por um realizador que se filmou essencialmente a si e aos seus amigos numa ficção inspirada pelas suas próprias vidas e experiências na cidade costeira sueca de Falkenberg. É o primeiro filme da competição do Indie onde se sente um realizador que pode ir muito longe. Retenham o seu nome: Jesper Ganslandt.
O que se passa em Falkenberg Farewell? Na realidade, quase nada. É só a história de como cinco amigos de 20 e poucos anos passam o Verão na cidade natal.
Mas, apesar de ser um filme sueco, há aqui um aroma de melancolia de fim de estação que parece vindo de um filme americano como American Graffiti ou A Última Sessão: o título já o dá a entender, mas ao longo do filme compreenderemos que Falkenberg Farewell é um longo adeus à adolescência, é a história do último Verão desta amizade. Há qualquer coisa de requiem (é inevitável não pensar em Kurt Cobain, mas o filme de Jesper Ganslandt eleva-se facilmente acima de Últimos Dias; e a narração final evoca o sublime A Última Hora, de Spike Lee). A sua melancolia nostálgica e lírica, sinceramente amadora, por um tempo perfeito que a entrada na idade adulta vem quebrar irremediavelmente (sublinhada pela música celebratória de Erik Enocksson, próxima dos Polyphonic Spree) torna-o no primeiro grande candidato ao prémio maior do festival - e, sem condescendências, num dos grandes filmes de 2007.
A excelência de Falkenberg Farewell vem menorizar o outro filme do dia, Analog Days, primeira longa do americano Mike Ott com a qual tem muitos pontos de contacto. Também Ott evoca o American Graffiti, de George Lucas, neste painel diagonal da alienação adolescente contemporânea nos subúrbios da metrópole americana, mas aqui também se invoca o Slacker, de Richard Linklater, e se introduz uma consciência política ao mesmo tempo anti-republicana e dubiamente liberal. Analog Days são dez meses na vida de adolescentes à espera que alguma coisa aconteça nas suas vidas, mas sem energia para mudarem as coisas por si próprios. Tem todos os defeitos desastrados de primeiro filme, mas o amadorismo bem-intencionado da maior parte dos enquadramentos, das interpretações e das opções de montagem dá, a espaços, lugar a duas, três cenas de maturidade e inteligência onde se sente o beco sem saída em que estas personagens se encontram, onde se compreende a falsidade da fachada social que os rodeia. Por entre este mosaico confuso e informe, Mike Ott consegue fazer passar uma genuína sensação de vidas que se estão a deixar perder.

Competição oficialAnalog Days (EUA, 2006, 1h20), de Mike Ott. Londres, Av. de Roma, 7; sala 1, hoje às 21h45. Repete-se 4ª(25) às 19h no Forum Lisboa, Av. de Roma, 14-L.
Falkenberg Farewell (Suécia, 2006, 1h28), de Jesper Ganslandt. São Jorge, Av. da Liberdade, 174; sala 1, hoje às 19h15, repete-se 3ª (24) às 18h45 na sala 3. Bilhetes a ?3 e ?3,50.

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