FILIPE PINTO BASTO SOARES FRANCO O recuperador de empresas que nasceu sportinguista

Nasceu sportinguista no meio de uma família de benfiquistas, e é o mundo do futebol que hoje lhe dá mais notoriedade, como presidente do clube de Alvalade. É também onde tem raízes familiares: foi o bisavô quem introduziu o futebol em Portugal, "importado " de Inglaterra. Hoje, está particularmente activo nestes dois universos que tanto gosta: preside aos destinos do Sporting Clube de Portugal, e à OPCA, a empresa de engenharia e obras públicas, fundada há 75 anos, que tem vindo a contrariar o ciclo de recessão que enfrenta o sector da construção em Portugal.
Em ambas as instituições, Sporting e OPCA, Soares Franco foi assumidamente ocupar-se de fragilidades de tesouraria que elas enfrentam ou enfrentavam.
Na OPCA, a tendência já se inverteu. De empresa deficitária passou a ter liquidez para "andar às compras": notificou a Autoridade da Concorrência da intenção de adquirir a portuguesa Sopol, e anunciou a fusão com a espanhola Sarrion. No Sporting, diz que o clube começa agora a estar "equilibrado".
Embora recuse o epíteto de "recuperador de empresas", não nega que nos seus 53 anos de vida, cimentou um percurso profissional em que abundam os exemplos: o mais flagrante terá sido na Tecnovia, uma empresa falida, "que valia zero", quando se ocupou de vender à Secil e Cimpor os activos da Terra Azul (uma empresa que veio a ser comprada pela Ciments Français), e que sob a sua gestão acabou por tornar-se na grande empresa de engenharia que é hoje.

Tecnovia foi uma escolaSe foi na Tecnovia que Filipe Soares Franco diz ter aprendido tudo o que sabe sobre construção, foi nos 12 anos que passou na Vista Alegre que diz ter adquirido um grande conhecimento sobre internacionalização. "Deu-me uma lição para a vida: lidar com produtos de mesa, e num mercado já bastante internacional, (a Vista Alegre tinha distribuição em toda a Europa, Japão, Estados Unidos), obriga a conhecer a cultura dos países. Se um serviço de mesa em Portugal tinha 70 peças, em porcelana, em Espanha eram 56 peças em faiança; nos Estados Unidos era um five piece set, com dimensões completamente diferentes. A enorme complexidade de produção, entre produto em branco e decorado, fez-me ver que, quando vamos para os mercados estrangeiros, não se pode levar a cabeça portuguesa", argumenta, justificando ser esta "uma das razões para que, hoje na OPCA, a política de internacionalização seja definida com um conceito muito diferente das outras empresas que também se internacionalizam".
O actual presidente da OPCA - e do Sporting - gere as empresas procurando acrescentar-lhes alguma mais-valia; e não tem problema em deixá-las, para responder a outros desafios que se lhe proponham. Se começou na empresa familiar - na Vista Alegre fez "a tarimba toda" -, não teve problemas em "ir para o mercado", e, no caso, para a Terra Azul. "Conseguimos pôr o grupo Terra Azul a dar dinheiro. E ganhar dinheiro neste mercado, para mim, era um choque cultural enorme. Era passar de um produto de consumo, onde o marketing, a distribuição, o preço e a promoção contavam e tinham impacto na procura, para um mercado que é uma commodity, um mercado onde a elasticidade ao preço é diminuto, para não dizer inexistente", explica.
Quando saiu da Terra Azul ficou com direitos sobre duas das suas credoras - e que não vendeu quando "desmantelou" o grupo para o alienar à Secil e à Cimpor: a A. Veiga e a Tecnovia. Foi por esta porta - e depois de uma passagem pelas telecomunicações (foi o representante da Ameriteck em Portugal) e pela corretagem de seguros que chegou ao universo da construção. Contou então com a mão de Ricardo Salgado e do BES, que liderava o grupo de 18 bancos credores da Tecnovia).
Esteve cinco anos na Tecnovia e admite ter conseguido "dar a volta" à empresa, com "a preciosa ajuda do accionista, Guilherme Oliveira da Costa", mas não resistiu a sair em 2000, para mais um desafio que lhe foi proposto pelo BES: tirar a OPCA do vermelho. Conseguiu-o. Tenta fazer o mesmo no Sporting, o clube que explica por paixão. "Quando se nasce, há opções que não fazemos, como a religião ou a educação que temos. Mas podemos fazer uma: a do clube. E eu cá, de uma família de benfiquistas, acordei sportinguista". L.P.

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