Paracetamol causou meia centena de reacções adversas em Portugal nos últimos três anos

Infarmed desvaloriza estudo feito nos EUA sobre danos causados pelo medicamento
no fígado

O paracetamol, o medicamento mais vendido sem receita médica, provocou, nos últimos três anos, meia centena de reacções adversas em Portugal, segundo o Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed), e foi recentemente associado à destruição do fígado, mesmo quando tomado no limite da dose diária recomendada.Trata-se da substância activa de vários analgésicos (para as dores) e de medicamentos destinados a baixar a febre - o produto mais vendido no país em quantidade. Só nos postos de venda livre (fora das farmácias), o paracetamol é o medicamento mais procurado, representando 11,5 por cento de todos os remédios comercializados nestes espaços.
Um estudo da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, divulgado este mês no Journal of the American Medical Association (JAMA), revela que, mesmo quando tomado no limite da dose recomendada, o paracetamol pode causar graves problemas de fígado, incluindo a sua completa destruição.
Para o estudo foram utilizados 106 participantes e 40 por cento daqueles que tomaram uma dose diária de quatro gramas de paracetamol durante 14 dias revelaram indícios de danificação daquele órgão.

"Não existemmedicamentos inocentes"
Num comunicado, o Infarmed defende que estes dados não são novos, "pelo que os resultados do estudo não trazem informação adicional ao conhecimento já existente". A autoridade de saúde recorda que os medicamentos com paracetamol vendidos fora das farmácias "estão autorizados apenas para indicações terapêuticas que não exijam doses elevadas e, muito importante, para curtos períodos de tratamento".
Os dados não surpreendem o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), Hermano Gouveia, para quem "não existem medicamentos inocentes". Em declarações à Lusa, Hermano Gouveia explicou que o paracetamol é "uma boa alternativa" a alguns analgésicos e anti- inflamatórios que provocam lesões a nível do esófago, estômago e intestino.
Contudo, "não há bela sem senão", e o paracetamol pode provocar lesões no fígado e, em casos mais graves, hepatites fulminantes que podem obrigar a um transplante. São, no entanto, situações normalmente atribuídas ao consumo excessivo desta substância - mais de quatro gramas por dia - ou quando associadas à ingestão de produtos igualmente lesivos para o fígado (como bebidas alcoólicas).
Segundo Hermano Gouveia, os problemas de saúde também se podem registar em doses mais reduzidas, como, aliás, veio demonstrar o estudo publicado no JAMA. O presidente da SPG reforça o alerta para um "princípio básico da medicina: não há medicamentos inócuos". PÚBLICO/Lusa

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