El Corte Inglés Acabaram as romarias a Vigo

Milhares de pessoas, entre convidados e funcionários dos mais de 200 departamentos do El Corte Inglés de Gaia assistiram ontem à inauguração oficial deste empreendimento, num momento aproveitado pelo Luís Filipe Menezes para atacar os burocratas que colocam entraves à acção de políticos empreendedores, a quem não fazem impressão palavras como ambição ou negócio. Por Abel Coentrão (texto) e Fernando Veludo (foto)

Captar investimento não é tarefa fácil. Que o diga o autarca Luís Filipe Menezes, que se insurgiu contra as regras "obsoletas" que aparentemente teve de enfrentar. Que o diga o ministro da Economia, que, "depois de um ano a trabalhar", anda numa lufa-lufa de anúncios de projectos que envolvem milhões de euros, alguns deles também a merecer a honra de uma referência... no discurso de inauguração do El Corte Inglés de Gaia. O segundo armazém da cadeia em Portugal abre hoje ao público, tornando dispensáveis as romarias que há décadas arrastavam até Vigo milhares de consumidores. Se para o empresário Isidoro Álvarez Álvarez o momento de abertura da segunda loja da cadeia espanhola em Portugal era momento de assumir o seu compromisso de servir não só a cidade e a região, mas também de promover os produtos portugueses nas demais lojas da cadeia, para as outras duas personalidades com direito a discurso perante mais de um milhar de convidados a cerimónia foi também uma oportunidade para recados. E muitos.
O presidente da Câmara de Gaia aproveitou o ensejo para lembrar que o "El Corte Inglés está em Gaia porque a autarquia acreditou no projecto e lutou por ele. Não foi fácil. Foi muito difícil, mas os empreendedores sabem enfrentar as dificuldades", notou, deixando um alerta para a possibilidade de "os ministros e os presidentes de câmara poderem ser acusados de ultrapassar regras obsoletas que são os principais entraves ao desenvolvimento de Portugal".
Perante uma plateia de autarcas da região e até da Galiza - o presidente da Câmara de Santiago, actual líder do Eixo Atlântico, foi um dos presentes - de empresários e de figuras públicas dos mais diversos quadrantes e dezenas de jornalistas portugueses e espanhóis, Menezes fez um apelo ao ministro, para que este retire o poder "das mãos de umas centenas de burocratas cinzentos, sem rosto, que fazem o possível e o impossível" para que dirigentes políticos empreendedores e sem medo do risco "tenham sucesso". E pediu ainda a Manuel Pinho que ponha nas mãos das autarquias a possibilidade de decidir a abertura das grandes superfícies ao domingo. Algo que o El Corte Inglés está impossibilitado de fazer "como é desejo das pessoas, só porque, como as outras, não separa os sapatos das meias com um vidro", explicou, numa alusão ao facto de, sendo um grande armazém, este ser considerado um espaço comercial único que, pelas suas dimensões, não pode abrir naquele dia da semana.
Depois de Menezes, coube a Manuel Pinho relevar as vantagens da presença do El Corte Inglés no Norte do país, desde logo pelos 1900 empregos directos criados - e aproveitar para dar conta de que a situação do país "está a mudar para melhor". O ministro lançou ainda ao empresário Isidoro Álvarez Álvarez o desafio de usar os seus grandes armazéns como montra para os produtos portugueses de qualidade, tendo inclusivamente oferecido a colaboração de uma equipa do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento - IAPMEI para identificar esses produtos.
El Corte Inglés já se adiantou nessa tarefa. Aliás, no primeiro discurso da noite, o líder do grupo já tinha feito questão de lembrar que tem muitos e bons fornecedores em Portugal - metade do que por aqui se vende é mesmo português, garante a empresa - e lembrou que esta colaboração já tem sido uma oportunidade, que agora se alarga, para fazer destes grandes armazéns "um grande escaparate" de produtos lusos nas lojas espanholas da cadeia. E não deixou passar a oportunidade de frisar que pretende colaborar com os pequenos comerciantes do concelho na defesa dos interesses comuns, que os há, explanaria a seguir Menezes.
"Só existe um comércio: o moderno, o competitivo e o que sabe vencer", argumentou, defendendendo que a chegada da cadeia espanhola ao centro de uma cidade vai obrigar os outros "a pedalar" nesse sentido. Menezes contou como Álvarez Álvarez lhe tinha confessado que a possibilidade de um contacto pessoal com o autarca de Gaia tinha sido determinante para a decisão de instalar El Corte Inglés na cidade, já que a primeira escolha do grupo tinha sido o Porto, recorde-se.
E, aproveitando essa relação pessoal, avisou que ainda há-de obrigar o empresário a abrir uma segunda loja no Grande Porto. "Para nós, e ao contrário de alguns que vivem no estigma do Velho do Restelo, não nos causa impressão palavras como negócio, risco ou ambição", disse, antes de anunciar que Isidoro Álvarez Álvarez está à cabeça de um grupo de personalidades que, pelo seu apoio à concretização deste projecto, receberá já no próximo mês uma medalha da cidade.

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