Pulsação Hip Hop no Coração do Porto

O que aconteceria se, de repente, o mundo se começasse a reger pelas regras do hip hop? Durante 11 horas, a Casa da Música deu
espaço a esse mundo, mostrando que a cultura do hip hop chegou para ficar. Por César David Sousa (texto) e Paulo Pimenta (foto)

Calças largas, bonés virados ao contrário, breakdance ao vivo. Também havia espaço para os mainstreamers mais curiosos e para os fãs mais discretos, mas a verdade é que, das três e meia da tarde de sábado até às duas da manhã de ontem, a Casa da Música foi o palco por excelência de uma forma de expressão que continua a passar por marginal aos olhos da sociedade. O hip hop é território de gente jovem, mas há muito tempo que já passou do estatuto de "moda". E nenhum lugar era mais adequado do que a praça exterior da Casa da Música, habituada como está à presença dos skaters. Ontem, não eram eles que estavam "a mais" entre os que lá costumam ir para assistir a concertos de música clássica, muito pelo contrário.
Durante toda a tarde, e pela noite dentro, uma das principais artérias da cidade pulsava de hip hop, desde a música rítmica e rimática dos DJ, passando pelos writers - que fizeram graffitis ao vivo - e acabando nos breakdancers, alguns convidados, outros nem por isso, que decidiram brindar a afluência constante de pessoas com uma actuação ao vivo, ali, no meio de toda a gente.
Max era um deles. Apareceu completamente vestido de laranja, só que não era pela cor do seu fato de treino que dava nas vistas, mas pela forma como dançava, entre movimentos robóticos e manobras complexas de difícil execução. Membro de um grupo chamado Momentum Crew, é especialista nas quatro variantes de dança hip hop: breakdance, popping (que explicou ser a dança "robótica"), locking e new-school. E ficou recentemente em quinto lugar num campeonato mundial. "A cultura hip hop está a ser muito bem representada, era preciso que existissem mais iniciativas deste género", explicava ao PÚBLICO durante uma pausa na sua performance.
Tudo estava temperado, claro, com a música - o pretexto máximo da reunião. Nomes como o colectivo de DJ Loop: Diggaz, DJ Nel"Assassin, DJ Bomberjack, Black Mastah, NBC e o britânico Rodney P animaram as hostes, mas a cereja em cima do bolo foram, sem dúvida, os portuenses Mind da Gap (MDG), um dos mais conceituados grupos do país e o exemplo, por excelência, da cultura hip hop da Região Norte - motivo pelo qual foram os escolhidos para encerrar a maratona.
"Quem está a fechar, realmente fecha o tasco", afirmou MC Porte, membro dos Gatos do Beco e dos Gaiolin Roots (ver caixa), referindo-se ao concerto dos MDG. O MC"ing é a sua forma de expressão, e para este jovem o evento na Casa da Música foi uma iniciativa importante: "Além de ser do Porto de gema, é sempre bom ter um dia em que acordas e vais para um destino em que sabes que vão lá estar os teus tropas. Vês graff, break e música, é uma boa onda, e só é pena que não esteja cá a cidade em peso". Para o DJ Pasta, seu amigo, o evento serviu para "não discriminar essa grande cultura que é o hip hop".
"Bazamos ou ficamos?", perguntavam os Mind da Gap antes do encore, e a resposta não é difícil de prever. De volta às ruas, por todo o lado, era impossível continuar a ignorar a cultura do hip hop, com uma certeza: chegou para ficar.

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