Co-incineração em Souselas é "teimosia"

Junta de freguesia e associação de defesa do ambiente falam em "mau início" da governação socialista e criticam José Sócrates

Dois dos principais dinamizadores das lutas contra a co-incineração de resíduos industriais perigosos na cimenteira de Souselas - o presidente da junta de freguesia e o presidente da associação local de defesa do ambiente - encaram a retoma do processo como um "mau início" da governação socialista e "uma teimosia" do primeiro-ministro. "É um mau início. E uma grande tristeza. O Governo começou a dar as primeiras machadadas para o descontentamento nacional", declarou à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Souselas, José Figueiredo, eleito nas listas da CDU. "Não passa de uma teimosia antiga insistir na co-incineração", declarou, por seu turno, o presidente da Associação de Defesa do Ambiente de Souselas (ADAS), João Pardal, antigo vereador social-democrata da Câmara de Coimbra. "Há outras metodologias para os resíduos industriais perigosos, nomeadamente os CIRVER [Centros Integrados de Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos Perigosos]". Mesmo assim, "há que esperar para ver o que vai acontecer".
Ao referir que está na expectativa em relação a uma definição mais concreta da intenção do executivo liderado por José Sócrates sobre esta matéria, o biólogo advertiu que, caso a cimenteira de Souselas seja escolhida para queimar aqueles resíduos, a ADAS voltará a apresentar os argumentos contrários à opção, "de forma civilizada e educada". "A localização deve ser analisada em qualquer processo com fortes incidências ambientais, assim como o risco tecnológico", frisou, aludindo à proximidade entre a cimenteira e o futuro Hospital Pediátrico de Coimbra e outros estabelecimentos de saúde.
Por outro lado, João Pardal criticou uma "eventual degradação da qualidade ambiental" e o potenciar dos riscos de acidente derivados da co-incineração, perante uma população [a de Souselas] afectada há várias décadas por "grandes passivos ambientais", em virtude do funcionamento da fábrica de cimento na vila.
A questão da saúde das populações é também um aspecto realçado pelo autarca José Figueiredo, que se afirma convicto de que o processo é nocivo para as pessoas. "Escolhem Souselas só porque têm uma cimenteira com fornos, para libertar veneno para a atmosfera, pois não há mangas que o impeçam, porque é gás", observou. A escolha de Souselas é ainda uma atitude de "pouco respeito para com Coimbra", que "não tem grande industrialização", e ainda se debate com "graves problemas de desemprego". Quanto à retoma da luta, o autarca não se quer antecipar, e diz que "o futuro o dirá", dependendo da vontade da população.
O programa do Governo prevê a avaliação do concurso público para a construção dos CIRVER e retoma o processo de co-incineração, além de reactivar a comissão científica independente para acompanhamento e controlo do processo. PÚBLICO/Lusa

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