Parque das Nações: Na sombra da Expo-98

Artur Pastor, 46 anos, professor de educação visual, é um exemplo do morador que se integrou com facilidade na zona do Parque das Nações, onde também trabalha, dando aulas na escola Vasco da Gama. Vive mesmo à beira do parque do Tejo e do Trancão, numa das torres verdes projectadas pela arquitecta Livia Tirone, que, por enquanto, ainda estão desafogadas e com espaços livres em volta. Já fez novas amizades, sobretudo no prédio onde mora desde Agosto de 2002."Há uma certa afinidade na maneira de estar das pessoas que moram neste prédio. Convivo e saio com várias, vamos ao cinema, passear de bicicleta, e até há algumas que estão a frequentar o mesmo curso de pintura que estou a fazer no Chiado", conta. Entre os novos hábitos que ganhou desde que mudou para ali destaca os passeios matinais de bicicleta à beira rio, desde casa até à marina, ou, no sentido oposto, até ao Trancão. Também anda mais a pé do que antes e, para ir à Baixa, usa a bicicleta até à Gare do Oriente e depois apanha o metro. "Quando vou à Baixa, às vezes já sinto um bocado que vou à cidade, ao bulício". Acha que ganhou "em qualidade de vida e em sossego" com a mudança e diz que já consegue fazer quase toda a vida ali, dividindo-se entre a escola, o ginásio que frequenta perto de casa, os passeios de bicicleta e o convívio com os amigos locais. "Já cá passei dias inteiros. Para as compras do dia-a-dia tenho um mini-mercado de qualidade aqui perto [no Terreiro dos Corvos], há um café, uma tabacaria, enfim, o comércio que já existe na zona norte chega-me". Só quando quer ir ao cinema é que se escapa do Parque das Nações. "Não gosto de ir ao cinema em centros comerciais, não faz o meu género estar sempre a ouvir o barulho das pipocas." Problemas na zona onde vive aponta um em particular: a insegurança. "Tem havido muitos roubos nas garagens do prédio: levaram bicicletas, uma mota e uma mota de água". A polícia passa pela sua zona cerca da meia-noite mas isso não impede os ladrões de conseguirem penetrar nas garagens.O facto de se estar a dar bem ali não o impede de ter alguns receios: "O meu temor é que comecem a construir aqui coisas que não estavam previstas. Quando olho ali para trás parece-me uma alucinação". Não longe de sua casa vêem-se alguns maus exemplos que uma urbanização como aquela não deveria ostentar.Manuel Reis, 54 anos, mudou-se há nove meses para o Parque das Nações, onde também trabalha, na IBM, que se instalou na Av. D. João II, no edifício junto à sede administrativa da Parque Expo, não longe da sua casa. Para já, o balanço que faz é positivo, embora teça algumas críticas à nova urbanização. "Quando pensei em vir para cá morar era por ser uma zona recuperada, com aproveitamento da zona ribeirinha. Apesar de já haver muita construção, a minha área ainda é desafogada", diz. Comprou um apartamento na zona sul, a 250 metros do Oceanário e próximo da Avenida D. João II, o que lhe reduz o tempo de deslocações entre o trabalho e a residência. Desde que ali mora, ganhou novos hábitos: além de ir passear para a beira-rio, passou a gostar de ir ao "bowling". "Nunca tinha jogado e agora, quando tenho um intervalo, vou lá um bocado, às vezes à hora de almoço", conta.Acha que "as invasões de fim-de-semana até são um bom sinal de que o Parque das Nações é um óptimo local para se ir em passeio", mas isso traz problemas de estacionamento. "Durante a semana é fácil estacionar mas ao fim-de-semana não se encontram lugares", diz. Comprou a casa através de uma cooperativa de habitação e penou enredado em burocracias, tal como para ter as ligações de gás e água. "Supunha que as infra-estruturas já estivessem feitas mas, afinal, parece que só existem nas ruas principais e tive de esperar imenso tempo". Acha que a limpeza exterior na zona onde mora "está impecável". Mas tem queixas do funcionamento do sistema de recolha de lixo do edifício. "Mete-se na conduta e às vezes não funciona. O lixo fica ali, a cheirar mal. Já ouvi queixas de outros moradores."Acha que está a haver um "desaproveitamento de estruturas que foram feitas para a Expo, em particular do Pavilhão de Portugal, sem uma ocupação digna, e também do Teatro Camões, onde só de vez em quando há espectáculos, quando podia ser melhor aproveitado".Queixa-se da insegurança, em particular à noite. "A garagem já foi assaltada quatro vezes, a mim tocou-me uma. Levaram-me o rádio e partiram-me o vidro do carro."E aponta várias falhas em matéria de serviços na zona sul: "A única farmácia fica na zona norte e fecha à hora de almoço. Os restaurantes têm preços turísticos e em geral caros. Não há tascas, não há um sapateiro, não há finanças, faltam transportes... Ainda faltam muitos serviços, talvez por haver menos pessoas também. Na zona norte há mais".

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