Teatro Experimental do Porto em cena há 50 anos

Decadência. Eis uma palavra muito usada para definir o estado actual do Teatro Experimental do Porto (TEP), que hoje celebra 50 anos. Há vozes que lhe anunciam a morte, mas a companhia recusa reduzir-se a uma memória. Move-se, a um ritmo de quatro estreias anuais. E fechou-se em Vila Nova de Gaia, onde mora há quatro anos e é muito apoiado pela autarquia. Alguns, como Paulo Castro, que iniciou a sua carreira no TEP nos anos 80, lamentam a perda do "cariz experimental" e a opção "mais comercial" da companhia lançada pelo mítico António Pedro. E também há quem o conjugue no pretérito. "Fiquei muito triste quando aquilo acabou", diz Isabel Castro, que fez uma temporada no TEP no final dos anos 60, a "ganhar menos de metade do que em Lisboa" e a dormir em casa de Fernanda Alves, porque "não tinha dinheiro para nada" mas "queria fazer teatro independente". E era lá que ele existia. O problema, acredita Emília Silvestre, é que "o TEP não fechou quando devia ter fechado, quando ainda tinha a aura que merecia". A actriz estreou-se na companhia com apenas 14 anos, mas afastou-se dela há muito. "A partir de certa altura, deixou de fazer sentido" ver os espectáculos. "Tornou-se demasiado doloroso", porque o grupo se transformou em algo que lhe é estranho e ela tinha "uma memória fantástica" para preservar.O "ostracismo das elites"Júlio Gago, director da companhia há 13 anos, não usa meias palavras: o TEP prima por "um teatro popular, não populista", em oposição a um teatro intelectual, que chama de elitista. "Não há teatro sem público. Não há teatro que não seja para o público", escreveu António Pedro. E a máxima continua a seguir-se, conforme se pode. Júlio Gago acredita na qualidade do trabalho. Os números apontados pelo auditório indicam uma média de 183 espectadores por representação. E "talvez seja interessante pensar nisso", diz. O público faz-se muito do vazio cultural de Gaia, fértil em teatro amador, confinado ao TEP na sua ligação ao teatro profissional. Mas também dos compromissos assumidos com a câmara - que traz escolas, centros de dia e outras instituições aos espectáculos. A mudança para Gaia fez o TEP reencontrar a sua vocação para a formação. A companhia tem vindo a desenvolver oficinas de teatro (quatro meses com cargas horárias semanais de nove horas) junto das colectividades locais. E tem colaborado com as escolas. O que leva Gago a falar não só em apoio ao teatro amador, mas também em formação de públicos. Na sua opinião, o TEP foi há muito votado ao "ostracismo" pelas elites. Não encontra inocência nas polémicas da última década em torno dos subsídios, nem na circunstância de os jornais não darem grande espaço à companhia. E queixa-se da falta de crítica teatral. E de dinheiros, porque o Ministério da Cultura ainda não anunciou os subsídios para este ano. Jorge Pinto, que começou no TEP em 1970 - a ganhar 50 escudos por representação, 25 por ensaio -, será dos poucos que ainda acompanha a vida da companhia. Mas não rejubila com o cenário actual. Acha que o TEP devia ter-se enfiado num museu, que até podia ser gerido pela associação que o suporta. Este era o modo "digno" de se conservar. A insistência da companhia em viver "estraga tudo". Não tivesse passado para Gaia e ter-se-ia continuado, de quando em quando, a "desenterrar gente para gritar: 'Aqui del rei! O TEP vai fechar!"Carlos Porto, testemunha do nascimento, do desenvolvimento e da decadência da companhia, é menos pessimista. Sabe que a hora "é de crise, que o trabalho não pode ser tão profissional como quando se tem mais apoios". Porém, reconhece-lhe um lugar relevante no quadro actual.Refere Joana Esteves, uma jovem actriz que lá passou um ano: "Cada companhia tem a sua estética, a sua maneira de trabalhar". E o TEP, com 23 artistas nos quadros, de várias idades, ainda serve de "escola" para muita gente.

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