Sinfónica de Londres esta noite no Coliseu dos Recreios

A quase centenária Orquestra Sinfónica de Londres é a convidada de hoje à noite para, no Coliseu de Lisboa, realizar mais um concerto do ciclo das Grandes Orquestras Mundiais promovido pela Fundação Gulbenkian. Fundada em 1904, a Orquestra Londrina é das mais conceituadas a nível internacional e teve como titulares alguns dos mais aclamados maestros, tais como Hans Richter, Edward Elgar, André Previn, Claudio Abbado ou Michael Tilson Thomas. Habituada a percorrer todos os estilos do repertório sinfónico, a Orquestra está também acostumada a uma grande variedade de maestros convidados, pelo que é famosa a sua capacidade de adaptação à vontade dos seus dirigentes. À sua frente estará o não menos famoso maestro Bernard Haitink.Haitink, que conta com 74 anos, mantém-se como um dos mais ocupados maestros da actualidade não sendo raras as vezes que tem que desmarcar concertos da sua sobrecarregada agenda musical. Natural de Amesterdão, Bernard Haitink debutou com a Orquestra do Concertgebow em 1956 e, desde então, não parou de dirigir as mais importantes orquestras, com as quais gravou muita da discografia de referência existente no mercado.O concerto terá inicio com a "Sinfonia nº 96 em Ré maior" de Haydn (1732-1809), conhecida como "O Milagre". É uma das Sinfonias de Londres, escritas entre 1791 e 1795, quando Haydn andava "ocupado a visitar a interminável" cidade cujas maravilhas não pararam de o surpreender. Como se pode ler nas cartas que escreveu, a atracção foi mútua: "A minha chegada à cidade causou grande sensação e fui notícia nos jornais durante três dias. Todos me querem conhecer..." A estreia da "Sinfonia nº 96" foi prova desse alarido, com o público a pedir um "encore" completo da obra.O primeiro andamento tem um cintilante "allegro" após a breve e lenta introdução. Para o último, Haydn requeria que fosse interpretado o mais pianíssimo e rapidamente possível. No segundo andamento, a entrada dos trompetes com a percussão é um dos momentos altos da sinfonia, efeito a que o compositor já havia recorrido na "Sinfonia nº88 em Sol maior".Foi com a 4ª Sinfonia que Brahms (1833-1897) se despediu da escrita sinfónica. Considerada como um dos melhores exemplos de coesão no seu processo temático e organização formal, é das sinfonias mais fáceis de ouvir pela maneira como se pode seguir o desenrolar de ideias do seu autor. O motivo inicial, tocado pelas cordas, em que facilmente se reconhece um intervalo descendente seguido de um ascendente, é um motivo recorrente na obra de Brahms e que aparece mais tarde no "Trio para Clarinete" e numa das "Quatro canções sérias". Na canção, a melodia está associada às palavras "Oh morte, que amarga arte...". No último andamento, a atmosfera está de novo condicionada pelas palavras; "Deus aos meus tristes dias traz um fim feliz", da cantata nº 150 de Bach, da qual Brahms recolheu inspiração para escrever esta lindíssima Passacaglia.A "Suite de Danças" de Béla Bartók (1881-1945) completa este fabuloso programa. Para melhor compreender esta obra é bom conhecer o contexto histórico-social em que foi escrita. A 17 de Novembro de 1873, as três cidades vizinhas de Buda, Óbuda e Pest efectuaram um pacto coligando-se numa única e poderosa metrópole, Budapeste. Os anos que se seguiram foram de grande crescimento demográfico e económico e Budapeste em pouco tempo igualou o estatuto de Viena dentro do império Austro-Húngaro. A guerra, no entanto, não tardou, e as diferenças entre as muitas minorias étnicas tornava-se evidente e dava mostras da fragilidade da aliança. Para unificar espíritos em dúvida, em 1923 o município de Budapeste encomendou a três compositores associados com o 'partido' obras que exaltassem o patriotismo em perigo.Foi neste contexto que Bartók foi incluído num grupo de músicos de que constavam Kodály e Dohnányi. A sua "Suite de Danças" foi assim estreada a 19 de Novembro de 1923. Naturalmente, os vestígios de música popular e do vasto repertório do folclore húngaro, romeno e mesmo arábico são o prato forte desta suite dividida em seis andamentos delirantes.

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