Diz-me como escreves, dir-te-ei quem és

Aos 13 anos, Manuel, chamemos-lhe assim, sofria de grande nervosismo e ansiedade, que degeneraram numa baixa auto-estima. Apesar de inteligente, os resultados dos testes na escola eram baixos devido ao nervosismo extremo que o impedia de se concentrar e realizá-los com sucesso. Os problemas de adaptação alargavam-se então aos colegas, que o achavam ridículo e o colocavam de parte. Este problema de rejeição aumentava o seu estado de nervosismo permanente e manifestava-se através de uma ansiedade quase incontrolável relativamente à vida dos pais. Hoje, o Manuel é um adolescente com perfeito autocontrolo sobre as suas emoções, estabelecendo cada vez mais e melhores laços de amizade com os colegas de escola. Quem o relata é Alberto Vaz da Silva, grafólogo, que examinou a escrita de Manuel e afirma ter revertido a situação do adolescente depois de um ano de intensa grafoterapia. A maioria das pessoas desconhece o que significa Grafologia. No entanto, a procura deste serviço está a aumentar e não escolhe idades, nem faz distinção entres os sexos.Tradicionalmente, a Grafologia é o estudo da escrita aplicado à descoberta do temperamento e do carácter dos indivíduos. Mas segundo Alberto Vaz da Silva, hoje em dia a Grafologia é um campo muito mais vasto, graças às descobertas da psicanalista francesa Roseline Crepy, que nela incorporou os dados da Psicanálise e descobriu o significado de cada letra, número e sinal de pontuação na escrita.Utilizando o método de R. Crepy, a Grafologia permite conhecer a biografia de infância de um indivíduo, desde o nascimento - ou antes - até aos seus sete anos de idade. Estes são dados que resultam da conjugação de determinados sinais que nunca mais se apagam e da análise do estado actual da pessoa. "Através da caligrafia é possível descobrir as transformações que a vida operou na pessoa: se foi fiel ao seu temperamento à nascença ou se, pelo contrário, ficou aquém ou além do que o que era esperado", explica.A Grafologia é cada vez mais aceite pela Psicologia como um ramo das Ciências do Carácter e do Comportamento, nomeadamente em países que sempre se dedicaram à Grafologia desde a sua origem, como a França, a Bélgica, a Suíça e a Itália, onde o seu ensino é leccionado em várias universidades.Segundo Alberto Vaz da Silva, a Grafologia é uma "aventura" que começa com uma longa conversa, depois do exame prévio de vários documentos escritos que o grafólogo estuda minuciosamente (ver caixa). "É neles que está escrita a nossa história e é a partir deles que se desenrola um novo caminho através do conhecimento próprio", acrescenta.O percurso inicia-se com uma conversa de cerca de quatro horas, que desempenha o papel de uma "breve terapia" e que tem como principal resultado fazer com que a pessoa fique a saber mais sobre si própria. "A escrita permite uma análise privilegiada do inconsciente", salienta.Nos casos considerados "mais sérios", pessoas que têm uma psicose ou afecções psíquicas mais graves, envereda-se por uma grafoterapia, procurando a cura da pessoa. Essa terapia pode durar até dois anos, no máximo, em que cada sessão tem a duração de duas horas, duas vezes por semana. Numa grafoterapia a pessoa aprende sumariamente a interpretar a sua escrita. "O grafólogo é um intérprete, não adivinha nem inventa", alerta Alberto Vaz da Silva. "A terapia tem uma dinâmica muito própria, vai actuando por si. Dependendo do problema, a cura é visível de forma mais ou menos rápida". Nas sessões de terapia, que se desenrolam com base no diálogo, chega-se à história de infância, o mais atrás possível e onde normalmente está a fonte dos problemas. "É no diálogo que está a cura", explica o grafólogo.A Grafologia tem várias utilidades e orientações, pois "permite identificar se uma pessoa é activa ou inactiva, a sua maturidade, capacidade de chefia e de trabalho em equipa, honestidade e outras características", explicou Alberto Vaz da Silva. Recorrem aos seus serviços empresas para contratação e selecção de pessoal e, a título individual, quem necessita de orientação profissional ou quer ver resolvidas questões pessoais. "As diferentes formas de escrita reflectem claramente as apetências profissionais dos indivíduos", exemplifica. Setenta por cento das pessoas, a primeira coisa que perguntam é se o grafólogo encontrou no exame muitos "defeitos" de personalidade. Mas o exame à escrita revela que o que se pensa serem defeitos são, na realidade, sofrimentos que vêm da infância, da biografia infantil. "A Grafologia permite-nos ver a história da infância com uma lucidez e precisão absolutas", acrescenta. Em afecções menos graves e mais fáceis de regular, como as neuroses - obsessões, histerias - as pessoas procuram compreender-se e perguntam "o que se está a passar comigo". Desta forma a cura vem mais facilmente.A escrita é ainda um eventual complemento "precioso" para o diagnóstico de várias doenças. No caso do cancro, existem estudos que detectaram traços comuns em pessoas que têm a doença e noutras que podem vir a desenvolvê-la. Apesar de não ser ainda comum, há médicos que já recorrem à escrita para complemento de diagnóstico, em casos de doenças de pele, por exemplo. "A escrita ajuda sobretudo a perceber as causas, a origem da doença", explica.O que faltará, então, para que a Grafologia seja aceite em Portugal e leccionada nas universidades? A resposta de Alberto Vaz da Silva é: "Tempo. É meramente uma questão de tempo, porque tenho a certeza do poder curativo deste trabalho. Quando, por exemplo, a classe médica perceber o instrumento que tem... aliás, começo a ter nos meus cursos muita gente ligada à Psicologia - a Grafologia dá-lhes a parte do inconsciente que a universidade não dá".

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