Cristãos na Palestina: condenados a desaparecer?

O Papa foi à Terra Santa no ano 2000. Voltou agora, pelo caminho de S. Paulo à região onde tudo gira à volta da imagem interminável do árabe terrorista e do israelita invasor. Nesse mar de violência, que dizem e que fazem as Igrejas cristãs, se é que ainda existem?Recebi do Patriarcado Latino de Jerusalém uma resposta através de uma conferência recente, feita em Paris, pelo patriarca Michel Sabbath, acerca da insistente propaganda contra a presença dos cristãos na Terra Santa.A Terra Santa é a Palestina histórica. Está situada entre o Jordão e o Mediterrâneo, limitada a norte pela Síria e o Líbano e a sul pelo Egipto. Chama-se hoje Israel e Palestina (ou Territórios Palestinianos Ocupados). O Estado de Israel compreende 78 por cento da Palestina histórica. O resto, 22 por cento, foi ocupado, por Israel, em 1967 e tem agora o estatuto de Territórios Ocupados ou de Autonomia Palestiniana. São estes 22 por cento da Palestina histórica que são hoje reclamados pelos palestinianos para criar aí o seu Estado.Com a visita de João Paulo II, no ano 2000, o mundo ficou a saber que existe uma comunidade de cristãos árabes que vivem nesse território desde sempre. Pertencem a uma grande variedade de Igrejas em comunhão com o Oriente e o Ocidente. As 13 Igrejas católicas, protestantes e ortodoxas são sobretudo de língua, cultura e história árabes. A abertura do ano jubilar foi proclamada em todos os ritos: grego, latino, siríaco ou arameu, arménio, copta, etíope. Além das antigas línguas litúrgicas, que também eram línguas nacionais, o árabe é a língua comum de todos os cristãos, excepto dos membros da comunidade etíope e da pequena comunidade de expressão hebraica que pertence, pela língua e história, à cultura israelita.Para muita gente, árabe é sinónimo de muçulmano. Isto é errado. no mundo árabe, sobretudo nos países do Médio Oriente, os cristãos de todos os ritos são, desde há séculos, parte integrante desse mesmo mundo.Na Palestina e Israel, intensifica-se uma propaganda aberrante destinada a fazer vingar a ideia de que os cristãos não passam de uma comunidade religiosa minoritária que não faz parte de nenhum povo... Como se um palestiniano cristão não fosse tão palestiniano como um muçulmano. Acenando com a perseguição que é movida contra os cristãos em certos países muçulmanos, procura-se envenenar as relações entre cristãos e muçulmanos palestinianos. Sem tornarem a vida impossível, o patriarca não esconde que entre maioria e minoria, ora por uma razão, ora por outra, existem sempre dificuldades nas relações. Acontece em qualquer sociedade.Em Israel - apesar de todas as estruturas democráticas -, a discriminação à base de raça e religião está a criar sempre atritos entre cidadãos judeus e árabes!Para não ceder a manipulações comandadas nas relações entre muçulmanos e cristão árabes e entre muçulmanos e cristãos palestinianos em particular, importa ter em conta o seguinte: do ponto de vista histórico, cristãos e muçulmanos são um só povo. Têm as suas raízes na mesma terra, a Palestina. Sejam quais forem as dificuldades exteriores e interiores, tanto no dia-a-dia como a nível individual, público e nacional, pertencem em conjunto ao mesmo país e constroem hoje uma história comum.Mas existe ainda uma razão de carácter teológico: os cristãos na Palestina e noutros lados - nos países do Médio Oriente - têm a vocação especial de viver a fé cristã numa sociedade árabe e muçulmana. No entanto, não receiam os cristãos que o novo Estado palestiniano venha a ser um Estado muçulmano?A resposta do patriarca Michel Sabbah é prudente. Resumindo muito: já existem vários Estados muçulmanos no Médio Oriente - o Iraque, a Síria, o Egipto e a Jordânia. Pondo de lado o Líbano, um caso com uma fisionomia particular, para os cristãos não será uma experiência nova. Sejam quais forem as dificuldades do futuro, procuraremos enfrentá-las e tentaremos encontrar os melhores meios para garantir a coexistência numa sociedade à qual nos sentimos enviados pela fé cristã. Nos referidos países, as constituições asseguram a igualdade perante a lei. Há, no entanto, muito a fazer para chegar a um equilíbrio cada vez maior entre maiorias e minorias. Mas, na Palestina, tão importante como a liberdade religiosa é a liberdade política ligada ou limitada pela ocupação militar dos Territórios Palestinianos.Hoje, os palestinianos cristãos - os que permaneceram em Israel e na Palestina e os dispersos pela imigração ou pelas guerras de 1948 e de 1967 - são 500 mil, isto é, 10 por cento da população.Actualmente, só lá residem 170 mil: em Israel (120 mil) e na Palestina (50 mil)Serão uma comunidade em vias de extinção? A resposta do patriarca é cautelosa: por causa da emigração que continua, devido ao conflito que parece interminável, pode parecer que assim é. Mas a comunidade cristã continua viva, participa e assume a vida toda da sociedade.O poderia militar de Israel pode continuar a ganhar todas as guerras. Que poderão fazer os cristãos para ganhar a paz Retomaremos a segunda parte da conferência de Michel Sebbath.

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