Demissão forçada de um ministro da UNITA

Os dissidentes da UNITA impuseram ao Presidente angolano a demissão de um ministro indicado por Savimbi. Assumiram-se assim como "únicos e legítimos representantes" do Galo Negro no final de um congresso onde Manuvakola ganhou a Valentim a liderança dos "renovadores".

Anástacio Sicato, actualmente a gozar férias em Portugal, e até ontem Ministro da Saúde do GURN (Governo de Unidade e Reconstrução Nacional), é a mais recente vítima dos "renovadores" da UNITA, que para o efeito solicitaram ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a sua exoneração. Aparentemente tudo parece indicar que Sicato terá sido vítima da sua indecisão em relação ao projecto de Jorge Valentim e Eugénio Manuvakola, depois de ter feito em Luanda algumas declarações ambíguas, logo a seguir à proclamação do manifesto de 2 de Setembro, que desencadeou o "processo renovador" do Galo Negro. Estes dissidentes concluíram ontem o seu primeiro congresso, assumindo-se como os únicos e legítimos representantes da UNITA. Resta, entretanto, saber se o afastamento de Sicato do Governo se ficou a dever a algum comportamento assumido nas últimas semanas no exterior do país. Seja como for, é já pouco provável, segundo algumas fontes, que Anastácio Sicato regresse tão cedo a Luanda, onde hoje deverá chegar Abel Chivukuvuku, após várias semanas de ausência por motivos particulares. O Presidente Eduardo dos Santos, que ontem reuniu o Conselho da República para, entre outros aspectos, ouvir aquela instância sobre o pedido de demissão do actual primeiro-ministro, França Van-Dúnem, na sequência dos resultados do IV Congresso do MPLA, resolveu demitir imediatamente o ministro da Saúde. Uma demissão que teve a particularidade de ser fundamentalmente política, pois foi feita, segundo reza textualmente o despacho presidencial, "a pedido da direcção da UNITA". Está-se a falar naturalmente da nova UNITA que acaba de eleger Eugénio Manuvakola para a sua liderança, no final de um congresso que produziu a mais importante divisão no seio do Galo Negro nos seus 33 anos de história.Eugénio Manuvakola derrotou o seu único adversário, Jorge Valentim, na disputa pelo posto de Presidente da Unita-Renovada por expressivos 495 votos contra 277. Manuvakola, que se assume agora como o mais directo aliado do MPLA e do Governo na luta contra Jonas Savimbi, disse ontem que "a UNITA passa a ser um factor de estabilidade no xadrez político angolano" e que a guerra em curso será a última fomentada pelo que ele designou como "savimbismo". Como metas de trabalho a atingir, Manuvakola destacou a "frente externa, que se apresenta para a nova direcção da UNITA como um terreno a desbravar. Precisamos de muitos amigos em todos os cantos do mundo, que nos ajudem na complementação de soluções nacionais". Referindo-se ao grupo parlamentar da UNITA, onde se concentram actualmente as maiores "dores de cabeça" dos renovadores, Manuvakola considerou que a bancada "atravessa momentos conturbados", mas apelou os seus colegas a depositarem toda a sua confiança "na nova direcção do partido". Sintomaticamente nenhuma palavra foi dita em relação à situação dos cinco deputados que se encontram presos pela polícia governamental acusados de envolvimento em alegadas acções terroristas de apoio a Jonas Savimbi. Quem já reagiu ao clima nada "simpático" que actualmente paira sobre todos aqueles que na bancada parlamentar da UNITA se recusam a aceitar o "projecto renovador" foram os deputados Armindo Cassessa, vice-presidente do grupo, e Urbano Tchassanha, vogal. Os dois deputados divulgaram ontem duas cartas abertas, a primeira dirigida a Eduardo dos Santos, Jonas Savimbi, comunidade internacional, igrejas e soldados, e a segunda a todos os parlamentares do mundo. Os signatários reafirmam que não reconhecem qualquer legitimidade "dos chamados renovadores" e protestam contra a "prisão arbitrária" dos seus colegas em "flagrante violação ao preceituado na Constituição". Em relação a Savimbi, que continua a merecer a designação de "Presidente da UNITA", Cassessa e Tchassanha chamam a sua atenção para a necessidade de "evitar um banho de sangue entre os angolanos", objectivo que consideram superior a qualquer outra razão.

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