Serviço de mensagens encriptadas bloqueou 78 contas do Estado Islâmico

Telegram, que defende a liberdade de expressão, mas assegura não permitir canais extremistas, só actuou após atentados em Paris.

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O Estado Islâmico tem usado o Telegram para reivindicar ataques e fazer recrutamento Reuters

O serviço de mensagens Telegram tem sido considerado como um dos canais usados pelo Estado Islâmico para campanhas de recrutamento e promoção, tendo sido no Telegram que foi divulgada a reacção do grupo extremista à ameaça feita pelos Anonymous de uma retaliação online pelos atentados terroristas em Paris. O serviço de mensagens anunciou agora que está a actuar em nome próprio para bloquear canais usados pelo Estado Islâmico.

Na sua conta no Twitter, o Telegram, um serviço com sede em Berlim que tem uma app que pode ser descarregada para troca de mensagens, avançou que identificou e bloqueou, esta semana, 78 canais públicos associados ao autoproclamado Estado Islâmico, em 12 línguas. Os bloqueios ocorreram depois de denúncias feitas por utilizadores, aos quais o Telegram veio agradecer o contributo.

Com cerca de 60 milhões de utilizadores activos, o Telegram é tido como um meio seguro para uploads e partilha de vídeos, textos e mensagens de voz. Além da resposta aos Anonymous, o Estado Islâmico usou o mesmo serviço para reivindicar os atentados em Paris, que levaram à morte de 129 pessoas, e a queda de um avião da companhia russa Metrojet, na península do Sinai, Egipto, que fez 224 vítimas no mês passado.

Numa nota divulgada no seu site, a direcção do Telegram afirmou-se “perturbada” por saber que o serviço está a ser usado pelo Estado Islâmico para propaganda.

Sugerindo que desconhecia a utilização dos seus serviços pelos terroristas, o Telegram relembra as suas regras de uso, sublinhando que “todas as salas de conversação e grupos de conversação são privados entre os participantes”. A empresa explicou que não terá actuado para suspender as contas do Estado Islâmico devido às suas regras quanto a restrições à liberdade de expressão, algo que encoraja através das suas políticas de utilização. "Enquanto bloqueamos bots [códigos maliciosos] e canais terroristas, não bloqueamos quem pacificamente expressa opiniões alternativas", disse o Telegram.

Uma investigação da Reuters a canais no Telegram divulgada esta quinta-feira concluiu que algumas das contas que tinham sido bloqueadas ressurgiram sob outras designações ou foram realocadas. Quando se tentou aceder a outros canais que foram inactivados, surgiu uma mensagem a indicar que já não estavam disponíveis.

Alex Kassirer, analista antiterrorismo na empresa Flashpoint, adiantou à Reuters que o Estado Islâmico começou a usar o Telegram nos últimos meses para divulgar comunicados de imprensa destinados a recrutar membros. Por sua vez, Rita Katz, directora do SITE Intelligence Group, que vigia a actividade de grupos extremistas, referiu que alguns dos canais associados aos terroristas, entretanto bloqueados, chegaram a ter até 16 mil seguidores.

O Telegram foi criado pelos dois irmãos Pavel e Nicolay Durov, que fundaram o VKontakte, o equivalente russo ao Facebook, que tem mais de 100 milhões de utilizadores activos. Os irmãos Durov perderam o controlo do seu site, depois de terem sido acusados de nada fazerem para impedir que fossem organizadas manifestações contra o Presidente russo, Vladimir Putin, e divulgadas informações sobre protestos na Ucrânia contra o Governo de Moscovo. Pavel e Nicolay acabaram por abandonar a Rússia no ano passado e estabeleceram-se em Berlim, onde lançaram o Telegram, permitindo a qualquer pessoa criar mensagens encriptadas de forma gratuita e ultra-secreta para serem enviadas através de telemóvel, tablet ou computador.

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