Pelo jornalismo, pela democracia

Tenho vindo a apelar aos leitores que sintam esta situação da ameaça de morte a que estão sujeitos alguns dos principais órgãos de informação (e já não é só a imprensa escrita) como ameaça à própria democracia.

Um grupo de cerca de meia centena de jornalistas tornou pública uma petição dirigida a todos os cidadãos com a intenção de chamar a atenção para a grave crise que atinge a maioria dos órgãos de informação em Portugal.

Como advertem, tal crise “pode parecer aos mais desprevenidos uma mera questão laboral ou mesmo empresarial. Trata-se, contudo, de um problema mais largo e mais profundo, e que, ao afectar um sector estratégico, se reflecte de uma forma negativa e preocupante na organização da sociedade democrática”. Na verdade, “a redução de efectivos, a precariedade de profissionais e o desinvestimento nas redacções podem parecer uma solução no curto prazo, mas não vão garantir a sobrevivência das empresas jornalísticas. Conduzem, pelo contrário, a uma perda de rigor, de qualidade e de fiabilidade, que terá como consequência, numa espiral recessiva de cidadania, a desinformação da sociedade, a falta de exigência cívica e um enfraquecimento da democracia”.

Em artigos recentes tenho vindo a apelar aos leitores que sintam esta situação da ameaça de morte a que estão sujeitos alguns dos principais órgãos de informação (e já não é só a imprensa escrita) como ameaça à própria democracia. Hoje, e porque dei maior espaço ao correio dos leitores, limito-me a focar a relevância deste documento cujo texto está distribuído na Net e que, estranhamente, não tem tido nos media o eco que merecia.


PELA MEMÓRIA DE SOPHIA

Escreve um leitor a manifestar a opinião de que esperava mais do “seu” jornal, o PÚBLICO, nas referências feitas a Sophia de Mello Breyner Andresen, por ocasião da transladação desta grande escritora portuguesa para o Panteão Nacional. “Esperava, pelo menos, a inclusão de um texto da autoria de Sophia”.

Comentário do provedor: Pressuponho que o leitor gostaria, sobretudo, de registar transcritos alguns poemas de Sophia. Mas é de reconhecer que nos textos do PÚBLICO, publicados nas edições de 2.07.2014, na secção Cultura e na reportagem do dia 3 de Julho, há largas referências à obra de Sophia. Este lamento do leitor pode ser interpretado na expressão da vontade dele e de tantos outros de que os textos da Sophia, como obra de notável património nacional, jamais sejam esquecidos. Ainda, anteontem, o colunista do PÚBLICO Francisco Teixeira da Mota terminava o seu artigo semanal transcrevendo um belo poema de Sophia. O que interessa – como dizia o seu filho, o jornalista e escritor Miguel Sousa Tavares, no dia da homenagem – é que Sophia esteja presente nas escolas no ensino das novas gerações. Por ironia e incongruência de políticas públicas, diziam anteontem algumas notícias que, afinal, a obra de Sophia, por agora, não faz parte dos programas escolares…

AINDA SOPHIA

Um outro leitor insurge-se contra a designação de Sophia, poeta, em vez de poetisa. E diz: “Não posso deixar passar em claro o reiterado abuso do substantivo 'poeta', utilizado indiscriminadamente sem ter em conta o género. (…) A língua não pode ser manipulada a seu belo prazer por aqueles que escolhem fazer da missão de informar ou noticiar a sua profissão”.

Comentário do provedor: Rigorosamente, como diz o leitor, poeta é substantivo masculino, poetisa é substantivo feminino. Mas, creio que era a própria Sophia que preferia ser designada poeta. E não será por acaso que José Manuel dos Santos, representante da Academia Nacional das Belas-Artes, no discurso de homenagem, várias vezes refere “poeta” atribuído a Sophia. Já agora, não interpretem os leitores que, nas várias vezes que refiro só o nome Sophia, é uma atitude menos respeitosa. Eduardo Lourenço, na apresentação da Antologia de Poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen (Moraes Editores,1978), nomeia-a como “aquela que todos nós, seus amigos e leitores subjugados há muito, chamam apenas Sophia.”

 

MUNDIAL 2014

Com certeza, não por efeito da minha última crónica dedicada a este evento global, mas pela inegável popularidade e universalidade, foram muitos os leitores que me enviaram mensagens comentando este assunto.

COM CARÁCTER DE ADVERTÊNCIA:

Escreve um leitor: “Registei a sua frase: “Um jornalismo sério e responsável não pode contribuir para alimentar estados de euforia que, não justificados, acrescentam aos povos desolações que eles já sofrem por tantas outras situações, mais reais e graves”. O que (o provedor) mencionava a respeito de euforia também se aplica ao alimentar do pessimismo e da depressão, ponto de vista igualmente digno de consideração nos campos onde também se situam outras situações mais reais e graves. Em todos os casos, do que se trata é de demagogia, de manipulação das emoções… Aprofunde, explore essa linha de intervenção no desempenho da sua importante função social”.

AS CONDIÇÕES CLIMATÉRICAS:

Relativamente aos diferentes factores invocados como influentes na péssima prestação da selecção nacional e outras selecções europeias, escreve um leitor: (…) “Tem-se ouvido por parte de uma grande maioria de comentaristas que as equipas europeias têm sido eliminadas devido às temperaturas elevadas que se fazem sentir no Brasil (…). Penso que a questão aqui não está no clima em si, mas sim – creio – no orgulho ferido dos europeus, sobretudo, daqueles que durante muitos anos e séculos foram orgulhosamente os descobridores e construtores destas nações do Sul, capazes de enfrentar qualquer adversidade climatérica com a força e capacidade que aqueles possuíam. Então, e agora?”

CARTAS À DIRECTORA

De certa maneira, é agenda social e política que dá motivo aos temas dessas cartas. Ora, o Mundial 2014 fez desencadear uma enorme quantidade de cartas. Normalmente, com comentários a propósito do “fracasso da selecção”, do “malogro de Ronaldo”, da “desproporcionada visão da real valia actual da selecção nacional”, etc. etc. Alguns leitores queixam-se da não-publicação das suas cartas.

COMENTÁRIOS DO PROVEDOR:

1. Quanto às cartas não publicadas, estabeleci contacto com a coordenadora desta secção, que me informou: “Há leitores que escrevem 10 cartas por dia. Obviamente, não as podemos publicar todas”.

De facto, pelas cópias que recebo, verifico que muitos leitores, no legítimo direito de intervir na discussão pública dos temas em agenda, enviam muitas mensagens. Constato até que, em certos casos, alguns leitores remetem para outros jornais as mesmas cartas. Com certa graça, até há um leitor que me diz: "Pelas muitas cartas que envio para um jornal regional, da redacção já me disseram que era preciso um jornal só para mim."

Este volume de cartas é um bom sintoma da interligação dos leitores com o jornal, vector que, de modo algum, deve ser desvalorizado pelo PÚBLICO. Todavia, é necessário ter em conta a advertência estabelecida na dita secção: “O PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos não solicitados e não prestará informação postal sobre eles”.

2. Em relação aos comentários da minha crónica de 29 de Junho de 2014, a intenção que presidia ao texto era aquela assim resumida: “Recebi avisos generalizados (de leitores, obviamente) a pedir que os jornalistas não abdiquem do papel crítico que lhes compete por compromisso social da profissão. E por isso, em especial aos profissionais do PÚBLICO, deixo aqui este apelo”.

Efectivamente, o PÚBLICO não é um jornal desportivo. Interessa, contudo, que os seus jornalistas não deixem de fazer uma análise ao que se passou e, em especial, com a selecção nacional. Importa que não concedam ao fenómeno desportivo reservas de assunto-tabu e não deixem cair sem uma posição crítica séria e responsável o “fracasso” da representação portuguesa. Compactuar com o silêncio que os responsáveis tentam fazer é uma atitude que não serve os interesses de um país.

3. No que diz respeito à primeira advertência que me faz o leitor, penso que a entendi.

 

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