O espaço de opinião no PÚBLICO

Enviam-me textos de discordância, ou de contestação, solicitando a publicação. Ora, tal decisão competirá sempre à Direcção e não ao provedor.

Os princípios norteadores de uma sociedade democrática teoricamente declaram o reconhecimento do direito à existência de uma opinião livre e plural.

Os media são privilegiado lugar do exercício desse direito num Estado democrático. Por isso, eles próprios são estruturais ao vencimento e manutenção de uma sociedade democrática. Mas entre a proclamação deste princípio e a sua prática vai uma enorme distância. Numa sociedade cuja complexidade de situações e problemas aumenta numa desproporção incomensurável face às soluções preconizadas e realizadas pelos decisores políticos a prática desse princípio é cada vez mais difícil de ver cumprida. Uma sociedade democrática é, por si mesma, uma sociedade de opinião. Mas quando a desestruturação dessa sociedade é ameaçada por crises internacionais e locais, naturalmente, esse Estado de opinião livre e plural vê aumentados os seus mecanismos de manipulação. Numa contingência destas ainda aqueles que proclamam procurar consensos a verdade é que não estão minimamente interessados em alcançar esse consenso. Só querem a hegemonia da sua opinião. Da opinião que configura o seu poder, o domínio da sua posição. Isto acontece no campo da política, nas questões do sistema económico e financeiro, da saúde, da educação, da mediatização dos mais diferentes fenómenos sociais.

Uma das características próprias a um jornal que tem como projecto, entre outros princípios de estatuto editorial, a defesa da democracia, é a de consagrar nas suas colunas grande espaço ao debate sobre temas de interesse público. No caso do PÚBLICO, esta condição estatutária verifica-se nas cinco, seis páginas, que este jornal, diariamente, dedica à secção Espaço Público, onde são publicados diferentes textos de opinião da autoria de colaboradores regulares convidados pela Direcção ou de colaboradores ocasionais que enviam textos a solicitar publicação. É neste Espaço Público que se insere a crónica do provedor do leitor e, normalmente, os textos de opinião dos próprios jornalistas do PÚBLICO. É um espaço de opinião que respeito e como mais de uma vez tenho dito e redito, em princípio, não me imiscuo. Continuo, porém, a ser pressionado por parte de alguns leitores para me pronunciar sobre opiniões expressas nesse espaço. Conhecedores desta minha posição de princípio, alguns leitores ultimamente têm tentado outra estratégia. Enviam-me textos de discordância, ou de contestação, solicitando a publicação. Ora, tal decisão competirá sempre à Direcção e não ao provedor. Importa continuar a preservar o Espaço Público como espaço de confronto de ideias e diferentes posições ideológicas num jornal de opinião livre e plural. 

 

O PÚBLICO e os relatórios do INE – nota da Direcção

Na edição de 15.02.2015, dei publicidade a uma queixa de um leitor que criticava e contestava as conclusões assumidas pelo PÚBLICO sobre alguns dos últimos relatórios do INE (Instituto Nacional de Estatística). No seu comentário, o leitor referia particularmente o Editorial do PÚBLICO de 10.02.2015. A propósito deste assunto, recebi da directora do PÚBLICO, jornalista Bárbara Reis, a seguinte nota:

“O texto do editorial da edição de 10/02/2015 reproduz os números divulgados pelo INE sobre as Estatísticas do Comércio Internacional (Facto 1: o crescimento das exportações abrandou para 1,9%. Facto 2: o crescimento das importações acelerou para 3,2%) e interpreta os dados como sendo uma possível inversão de tendência no padrão de evolução da balança comercial de bens. Facto/tendência para o qual o próprio Fundo Monetário Internacional (que também é referido no texto) alertou no seu último relatório antes do final do programa de resgate e no seu primeiro relatório após o programa de ajustamento (este último publicado a 30 de Janeiro). Da análise feita em editorial aos dados do comércio externo é impossível (e até abusivo) inferir que o PÚBLICO estará a tentar convencer os seus leitores de que o programa de ajustamento falhou, como sugere o leitor. Nas páginas 2/3 da mesma edição, o tema da balança comercial é abordado do ponto de vista do agravamento do défice comercial com a Alemanha e, como tal, os gráficos que são escolhidos para ilustrar o artigo dizem respeito às importações/exportações totais e às importações/exportações com a Alemanha.” 

Comentário do provedor: a publicação da queixa do leitor e a posterior nota da directora do PÚBLICO identificam sobremaneira a independência total com que o provedor do leitor trabalha neste jornal. De qualquer modo, reconheço, seria mais aconselhável publicar a "acusação" feita pelo leitor, acompanhada da nota da directora. A queixa do leitor resumia um conjunto de várias e repetidas críticas. Entendi, por isso, não protelar essa publicação. Como se percebe, pelo texto da nota, o leitor manifestava discordância pela leitura que o PÚBLICO fizera sobre o atrás citado relatório do INE.

 

CORREIO LEITORES/PROVEDOR

O papel das creches na formação das crianças

Da polémica surgida a propósito do artigo publicado no PÚBLICO, sob o título, “Creche: quanto mais cedo melhor?”, na edição de 9.02.2015 e assinado por Luísa Pinto, retenho de imediato a frase final de um outro texto de réplica, enviado pelos médicos Vítor Portela Cardoso e Paula Mendes: “…congratulamo-nos pelo interesse demonstrado pelo tema”. Aliás, esta foi a minha intenção ao publicar a carta de Sílvia Barros, Manuela Pessanha e Carla Pinto. Publiquei-a por me parecer “abrir importante espaço a um interessante debate”, no que concerne ao papel das creches na formação e no desenvolvimento das crianças. Em qualquer um dos textos publicados, não vislumbro existirem posições extremadas ou radicais. Os seus autores assumem pontos de vista diferentes e, porventura até, complementares. A ciência não se afirma ou se conquista com conclusões admitidas como definitivas em campos de intervenção e discussão em aberto como é o caso da questão do papel das creches na educação das crianças. Trata-se de uma discussão entre técnicos interventores neste campo. De modo algum, descortinei no texto dos médicos Vítor Cardoso e Paula Mendes outros interesses, além de um “interesse académico”. E seria, de facto, “impossível e pouco rigoroso metodologicamente levar a cabo uma pesquisa que procurasse responder a todas as perguntas” nestas áreas. Como salientam os médicos Vítor Cardoso e Paula Mendes (…) “a necessidade de mais estudos é clara” não só nos domínios estudados como noutros, podendo “esta revisão ser o ponto de partida para futuras investigações, especialmente à luz do contexto português”.

Reputo importante que, sobretudo, aqueles que trabalham e investigam em matérias científicas e objectos concretos de estudo como este do papel das creches na formação das crianças não se furtem a um debate aberto nos seus locais de intervenção ou ainda através dos media quando estes nas suas funções de prestação de serviço público lhe dão para isso oportunidade. E creio que sobre este tema está em aberto o debate proporcionado pelo PÚBLICO, como o comprova mais um texto, anteontem publicado por este jornal, da autoria da médica pediatra Vânia Mesquita Machado.

 

O “Golfe das Catifarras” e a nossa língua

O “Golfe das Catifarras” atento ao cuidado com a nossa língua recomenda:

“Todos os dias leio ‘na França’, ‘no Chipre’, etc. Ora, em relação aos países sem artigo (França, Itália, Chipre, etc.) não se pode, por não existir o referido artigo, fazer a conjugação ‘na’. Já seria tempo de corrigir isto. Será assim tão difícil?”

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