Come-se bem e pouco

Na alimentação, como na Medicina, a moderação — essa estúpida palavra — está na moda.

Devorei, sem azia, a última revista 2 com a capa verbal e graficamente deliciosa: Devemos comer o que andamos a comer?

Alexandra Prado Coelho escreve melhor sobre comida e cozinha do que todos os gastrónomos juntos. Tem a virtude do entusiasmo e da curiosidade sem ter o vício correspondente do egoísmo. Deixa falar os outros. Não tem medo das contradições, que, quando não doentiamente exactas, são quase sempre saudáveis. Tal como o pai, Eduardo Prado Coelho, acolhe as aporias de braços abertos.

Também Francisca Gorjão Henriques escreve um raio luminoso de uma boa reportagem. Os textos delas lêem-se como aventuras dialécticas: he said, she said no melhor estilo distante mas interessado em descobrir a riqueza das diferenças de opinião e de vivências.

Por um acaso que é apenas um encontro de inteligências, ambas foram falar com o sábio José Camolas, nutricionista do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, criado e dirigido pelo grande médico e endocrinologista Alberto Galvão Teles — a quem, a começar pela hepatologista magnífica com quem casou (a gastroentologista Estela Monteiro) devo a vida, no sentido concreto de não estar hoje morto.

Na alimentação, como na Medicina, a moderação essa estúpida palavra está na moda. A verdade é que tudo o que é excessivo é venenoso e que, para uma minoria considerável de pessoas, até as pequenas quantidades são venenosas.

O leite e os lacticínios, o glúten e os alimentos cozidos; desculpem lá: não podem ser maus. E mais: são bons.

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