Acessos de honestidade

Quanto mais o dinheiro falta mais as pessoas fazem tudo para ganhar algum. Mas há pessoas tão honestas que se prejudicam por dizerem a verdade.

Só num caso posso citar nomes: foi a proprietária da loja japonesa Goyo-Ya em Cascais que me salvou. Ia eu comprar 5 latinhas de 30 gramas de pó wasabi por 15 euros. A senhora explicou-me que gostava muito de vender latinhas giras de 30 gramas porque ganhava mais dinheiro assim - mas que um quilo do mesmo pó custava apenas 18 euros. Pelo preço de 6 latinhas (180 gramas) levava para casa mais 820 gramas. Quando agradeci ela disse-me que assim eu ficava cliente da loja dela - e fiquei. 

Os acessos de honestidade salvam a nossa fé, mesmo perdida, na humanidade. Numa farmácia onde fui comprar óleo de fígado de bacalhau um farmacêutico alertou-me para as contra-indicações - e saí sem ter comprado nada.

Mais impressionante ainda foi um vendedor de automóveis usados (uma profissão com uma reputação injusta de desonestidade) que me aconselhou a não comprar o carro barato e bom que eu já tinha decidido comprar porque era diesel e os motores diesel só valem a pena para quem "faz" muitos quilómetros, prejudicando o motorista, como eu, que não passa mais de vinte minutos por dia a guiar o carro, nos poucos dias em que se mete no carro.

A honestidade é uma droga. Vicia-nos. Com razão. Nunca se esquece quem não só não nos mente como nos diz a verdade. Tal qual a conhece. Que é sempre melhor do que nós.
 

  

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