A antiga palavra gay
Os irlandeses passam a vida a surpreender-nos. Deveríamos acompanhá-los mais ainda.
O título do Guardian, para uma notícia de Henry McDonald em Dublin, era o mais sintético: "A Irlanda ficará como o primeiro país a legalizar o casamento gay por voto popular".
A Irlanda que é o mais católico (e já foi o mais repressivo) de todos os países religiosamente católicos é hoje o mais católico no verdadeiro sentido, de querer incluir toda a gente.
Os irlandeses mudaram de opinião porque são cultos e inteligentes. Não toleram papas na língua (em ambos os sentidos destas palavras): são um povo aberto, por muito conservadores que possam ser.
É estranho falar no casamento "gay". As pessoas casam-se cada vez menos. O sexo e a sexualidade de quem se casa parecem-se cada vez mais com uma discriminação superficial e estúpida, baseada na cor da pele.
Ser-se a favor dos casamentos "gay" é tão vápido e inútil como ser a favor dos casamentos entre judeus e gentis, ateus e crentes ou pessoas de pele branca com outras de pele castanha.
A palavra gay só ganha em desaparecer. Cada um é como é. Não é estranho nem especial ser-se homossexual. Quando tentamos definir - ou apenas descrever - uma pessoa que conhecemos a sexualidade dela diz muito menos do que desdiz.
O Papa Francisco tem de ser papa e não pode concordar. Os irlandeses sabiam isso: mesmo aqueles que votaram a favor do casamento de pessoas católicas do mesmo sexo que querem casar-se.
Os irlandeses passam a vida a surpreender-nos. Deveríamos acompanhá-los mais ainda.