Ministério da Justiça gastou 1,1 milhões de euros em sistema informático que não utilizou

Ferramenta desenvolvida pela Accenture, a pedido do Governo de José Sócrates, foi ensaiada durante um mês mas nunca chegou a ser utilizada.

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Governo de José Sócrates tinha considerado esta ferramenta "prioritária" Reuters/Nacho Doce

O Ministério da Justiça pagou 1,1 milhões de euros por uma ferramenta informática de gestão dos inquéritos-crime do Ministério Público (MP) que acabou por não ser instalada, apesar de ter sido ensaiada durante um mês.

A plataforma - Aplicação de Gestão do Inquérito-Crime (AGIC) -, que acabou por ser considerada insuficiente, foi desenvolvida pela empresa Accenture, em contrato celebrado a 2 de Junho de 2010, por ajuste directo, no valor de 1.398.573,95 euros, visado pelo Tribunal de Contas em Agosto do mesmo ano.

Fonte do Ministério da Justiça disse à Lusa que o contrato “foi pago parcialmente”, uma vez que se “chegou a um acordo com a Accenture no sentido de pagar apenas 80 por cento do valor do contrato”.

“O pagamento foi faseado, sendo que a última factura foi liquidada em Dezembro do ano passado”, sublinhou a mesma fonte, que garante que o Ministério da Justiça pagou à empresa 1,1 milhões de euros.

Como o sistema “não estava a ser utilizado”, o Governo de maioria PSD/CDS-PP iniciou a negociação com a Accenture, depois de a Procuradoria-Geral da República (PGR), ainda com Pinto Monteiro como procurador-geral, ter “considerado insuficiente o produto”, segundo outra fonte ligada ao processo.

“Nas questões de segurança não havia nada a apontar”, referiu, acrescentando que a ferramenta tinha “problemas de especificidades”.

Contactadas pela agência Lusa, a PGR não respondeu sobre os motivos para o abandono da ferramenta, enquanto a Accenture afirmou que “o percurso da plataforma AGIC foi definido pelo Ministério da Justiça, fundamentado em decisões às quais a Accenture é alheia".

“Tendo presente que os termos do contrato e adendas são confidenciais, remetemos qualquer esclarecimento adicional para o Ministério da Justiça”, acrescentou a empresa.

Processo congelado durante um ano
Este sistema informático foi entregue pela empresa dentro do prazo estabelecido no contrato - sete meses e 27 dias -, mas o processo esteve congelado durante um ano, não só por causa da queda do Governo de José Sócrates como pela necessidade de o ministério de Paula Teixeira da Cruz, a ministra da Justiça que sucedeu a Alberto Martins, estudar o dossiê.

De iniciativa do Ministério da Justiça, a AGIC, plataforma para responder às exigências da investigação e para permitir a articulação entre os órgãos de polícia criminal, foi desenvolvido pela Accenture, pelo Instituto das Tecnologias na Gestão da Justiça (ITIJ) e pela PGR.

Na resolução do Conselho de Ministros de 17 de Fevereiro de 2010, o Governo socialista de José Sócrates considerou a plataforma “prioritária” e a estrutura do projecto para acompanhamento e desenvolvimento da ferramenta foi criada pelo despacho 8.375/2010, de 30 de Abril do mesmo ano.

A versão experimental, sem intervenção de juízes, foi disponibilizada no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa a 13 de Dezembro de 2011, mas o ensaio do sistema só durou um mês.

Em 2010, uma nota da PGR referia que esta plataforma se inseria na política de desmaterialização na Justiça e que foi criada para tornar “mais célere e eficaz a actuação do MP”. Também se pretendia “reduzir substancialmente os custos e rentabilizar os meios e o tempo agora despendido em tarefas manuais e demoradas”.

A PGR assegurava que a AGIC “cumpre os mais elevados padrões de segurança para garantia da confidencialidade e integridade dos dados, com prevenção da violação do segredo de justiça”.

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