Paulo Portas quer um compromisso no IRS

Líder do CDS-PP puxa pelo partido e pela maioria para “vencer” as legislativas, mas não se pronuncia sobre coligação pré-eleitoral.

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Líder do CDS-PP foi recebido em típico ambiente de arranque de campanha eleitoral. Nuno Ferreira Santos
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Paulo Portas com Assunção Cristas, a quem o líder centrista elogiou o trabalho à frente da pasta da Agricultura. Nuno Ferreira Santos
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Nuno Ferreira Santos

Sem querer antecipar os contornos da futura proposta fiscal do Governo, o líder do CDS e vice-primeiro-ministro defendeu a necessidade de uma “moderação” no IRS como um sinal de recompensa pelo esforço da classe média e de valorização da economia. Mas deixou um recado ao parceiro de coligação: é preciso chegar a um compromisso.

Na rentrée do partido, na escola de quadros do CDS-PP realizada num hotel em Peniche, Paulo Portas falou sobre o Novo Banco, fazendo alguns reparos ainda que indirectos ao Banco de Portugal.

Lembrando que o próximo Orçamento será o primeiro no pós-troika, o líder do CDS evitou o confronto com aquele que tem sido o discurso do primeiro-ministro e da ministra das Finanças sobre impostos e propôs um “caminho intermédio”.  O número dois da coligação insistiu na moderação fiscal, feita de forma faseada, e sem esquecer a responsabilidade orçamental.

“Prudência orçamental numa mão, sinais de mudança na outra. Acho que é possível chegar a este compromisso”, defendeu, propondo que se deixe de lado os impostos como uma questão apenas do CDS: “Não trabalharemos com base na bandeira partidária, mas numa base de compromisso.”

Perante uma sala cheia, onde estavam perto de mil pessoas (segundo a organização), Portas falou num novo tempo em que terminou a excepcionalidade. “A moderação fiscal torna-se mais importante quando houve aumentos excepcionais de impostos e isso aconteceu por decisões desfavoráveis do Tribunal Constitucional. Também aqui temos de saber transformar o que era excepcional numa política que possa ser mais justa, mais amiga da economia, mais valorizadora da família e de quem trabalha”, defendeu. E justificou a necessidade de moderação fiscal como “um sinal faseado gradual, mas uma recompensa pelo esforço da classe média, da sociedade dos que trabalham e pagam impostos”.

Ao mesmo tempo, lembrou que, com enormes aumentos de impostos, “os técnicos habituam-se àquela receita” e que “têm que ser os políticos a dizer que o que foi excepcional não foi normal e que temos de fazer uma recuperação gradual”.

Depois de elogiar ministros e secretários de Estado do CDS - “só falo dos meus”, justificou -, Portas apontou para a recta final da legislatura em que, sem troika, há outra “serenidade e maior liberdade”. “Se temos metas atingir no quadro europeu, um compromisso que é firme, somos nós que escolhemos as políticas para atingir essas metas”, afirmou, para logo de seguida dar esperança ao eleitorado de centro-direita.

Objectivo: vencer as legislativas
“O nosso objectivo político como partido e como maioria para o ano de 2015 é vencer as eleições as legislativas. Nada está garantido e engana-se quem pensar que já ganhou”, disse, recebendo palmas fortes, numa declaração que parecia indicar uma coligação com o PSD pré-eleitoral. Mas logo a seguir a ideia ficou em dúvida: “Convosco, seja qual for a modalidade, vamos à luta que está no nosso ADN.”

Foi um discurso de mobilização do partido perante centenas de militantes que se levantaram à chegada do líder, agitando bandeiras, num espírito que mais parecia o de um comício de uma campanha eleitoral. Portas foi assim mais longe do que Passos Coelho na mensagem eleitoral para as legislativas. O líder do PSD e primeiro-ministro optou, na passada semana, no encerramento da Universidade de Verão do partido, em Castelo de Vide, por recusar “eleitoralismos” a quase um ano de eleições.

Para os partidos da oposição sobraram poucos recados. O PS foi poupado pela actual disputa interna, embora Portas tivesse registado que “muitos portugueses se interessaram por seguir os debates” televisivos.

Já o PCP foi alvo da atenção do líder do CDS por causa da proposta de saída do euro assumida. “Isso significava a desvalorização das nossas poupanças, uma onda de choque que seria terrível para classe média como deixaria mais pobres os desfavorecidos”, disse, defendendo que “os problemas do euro existem e tratam-se dentro do euro”. Sobre os antigos credores – agora “parceiros” – de Portugal, Portas manifestou a sua preferência. “Nós estamos mais próximos de intervenções que Draghi tem tido do que Lagarde”, disse, numa referência ao presidente do Banco Central Europeu e à directora-geral do FMI.

O discurso de encerramento da escola de quadros fechou com a entrega de diplomas aos alunos, concluindo a primeira universidade do CDS organizada nestes moldes. No palco, Portas não desperdiçou a oportunidade para fazer a foto de família. Uma selfie que esconde um painel com a fotografia do congresso de 1974 em estilo Andy Warhol.

 

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