Passos volta a ceder à tentação de responder publicamente a Cavaco

Contra-ataque do primeiro-ministro ao Presidente no caso BES não é propriamente uma novidade em três anos de convivência.

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Nuno Ferreira Santos

A propósito do Orçamento do Estado para 2012, o primeiro-ministro avisava que não contassem com ele para polémicas públicas com o Presidente da República. Mas os três anos de convivência entre Pedro Passos Coelho e Cavaco Silva foram marcados por algumas respostas do primeiro ao segundo, como o caso BES esta semana deixou à vista.

Depois de o Presidente ter dito que esperava ter recebido toda a informação relevante sobre o dossier, Passos contra-atacou afirmando que, se o Presidente não soube tudo, foi porque não perguntou, já que dispôs de “plena ocasião para colocar todas as questões que entendia pertinentes”.

Em 2011, Passos dizia em tom de promessa: “Nunca ninguém contará comigo, em especial em momentos de tantas dificuldades como este, para estar a contribuir para alimentar qualquer polémica, ainda para mais com o senhor Presidente da República."

Mas em três anos de convivência houve momentos sensíveis em que o primeiro-ministro cedeu à tentação de responder publicamente a Cavaco Silva. Em 2011, estava em cima da mesa o desacordo sobre o corte nos subsídios aos funcionários públicos e pensionistas.

Enquanto o chefe de Governo considerava que o Orçamento do Estado para 2012 traduzia “um esforço o mais equilibrado possível na distribuição dos sacrifícios", o mais alto magistrado da nação tinha considerado a medida uma "violação de um princípio básico de equidade fiscal". E ia mais longe ao manifestar o receio de que estivessem ultrapassados os “limites que podem ser pedidos aos portugueses”.

Escassos meses depois, a troca de palavras voltava a repetir-se nos microfones mediáticos. Quando Cavaco Silva lamentou, em Janeiro de 2012, o valor das suas pensões, Passos veio 'pôr os pontos nos is' e dizer que os sacrifícios são para todos. Presidente incluído.

“Devo receber 1300 por mês, não sei se ouviu bem: 1300 euros”, disse Cavaco, referindo-se à sua pensão da Caixa Geral de Aposentações. Além desta, a pensão do Banco de Portugal, o que lhe permitiu então concluir: "Tudo somado, o que irei receber do Fundo de Pensões do Banco de Portugal e da Caixa Geral de Aposentações quase de certeza que não vai chegar para pagar as minhas despesas porque, como sabe, eu também não recebo vencimento como Presidente da República”.

A resposta foi assim: “Todas as pessoas, independentemente da posição que ocupam, fazem hoje sacrifícios importantes, sejam aqueles que têm reformas maiores ou aqueles que têm reformas mais pequenas (…) O que eu quero dizer aos portugueses, a começar pelo Presidente da República e a acabar em qualquer cidadão em Portugal, é que esses sacrifícios vão valer a pena”.

No primeiro dia de 2013, na mensagem de Ano Novo, Cavaco voltava a irritar Passos Coelho com a famosa expressão “espiral recessiva” que adviria da austeridade.

“Temos urgentemente de pôr cobro a esta espiral recessiva (…) É um círculo vicioso que temos de interromper”, disse, em directo para casa dos portugueses. Passos não desperdiçou, dias depois, o cantar das Janeiras: “Nós não estamos a iniciar um ciclo vicioso de que não conseguimos sair, mas apenas a vislumbrar a saída de um período difícil que estamos a completar”.
 

   

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