Coligação PSD/CDS quer reconquistar eleitorado tradicional com “afecto”

Passos e Portas vão insistir no risco da “esquerdização do PS” à boleia de indicadores económicos favoráveis.

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Miguel Manso

Com uma agenda mais light na segunda semana de campanha oficial, Passos Coelho e Paulo Portas vão procurar conquistar os abstencionistas – considerado um adversário maior do que o próprio PS – com um discurso para os seus eleitores tradicionais que estão “zangados” com os partidos do Governo. Por estes dias, a coligação PSD/CDS vai andar em terreno favorável e à boleia dos indicadores económicos.

Em muitos discursos ao almoço ou ao jantar, Passos e Portas têm-se dirigido aos eleitores que se sentem defraudados com as medidas tomadas pelo Governo. Abundam as explicações e as justificações para tentar convencer esses eleitores da inevitabilidade da dose de austeridade aplicada. Será com “afecto” e não por uma “ordem militar” – segundo uma fonte da comitiva – que Passos e Portas tentarão chegar ao coração desse seu eleitorado.

Depois do agravamento do défice de 2014 – com contabilização pelo INE do empréstimo ao Novo Banco e que a coligação bem tinha dispensado durante a campanha eleitoral –, os números da execução orçamental até Agosto vieram dar um alento à campanha. É que esses dados permitirão anunciar boas notícias na devolução da sobretaxa do IRS, ou seja, deixar uma mensagem de esperança.

É no futuro que a coligação se quer concentrar na segunda semana da campanha para conquistar os abstencionistas. Depois de passada a fase da emergência, Passos Coelho quer virar-se mais para o desenvolvimento. Neste ponto são fundamentais os fundos comunitários do Portugal 2020.

O tom da mensagem será de tranquilidade e de defesa de estabilidade. Aliás foi no final desta primeira semana, na zona de Trás-os-Montes, terra natal de Passos Coelho, que o líder da coligação disse abertamente estar disponível para dialogar com “todos os partidos” em nome de uma futura estabilidade governativa. Um tom de moderação que se quer contrastar com a “radicalização” do PS. É no medo dessa “esquerdização” – o PCP quer sair do euro, o BE é contra a NATO – que a coligação aposta para trazer o voto para a direita.

Animada pelas sondagens diárias que dão desvantagem ao PS, a aliança PSD/CDS vai ainda fazer sobressair o que considera a falta de preparação técnica do líder do PS para questões económicas complexas como as da Segurança Social. Nos próximos dias, a caravana vai passar em distritos favoráveis como Braga e Viseu.

“Há um clima crescente de adesão e este fim-de-semana vai ser o ponto alto da campanha”, afirmou ao PÚBLICO Marco António Costa, vice-presidente do PSD que tem acompanhado os dois líderes da coligação na estrada. Porto e Braga – os círculos por onde a coligação vai passar este sábado e domingo - são o terreno fértil para boa parte da classe média e de muitos dos que ainda não perdoaram o Governo. É aí que a coligação insiste, ao mesmo tempo que vai desvalorizando os insultos que se vão ouvindo na rua.

A dupla Passos/Portas tenta a todo o custo articular-se na rua e mesmo nos discursos, apesar de assumirem estilos bem diferentes de fazer campanha. O líder do CDS é muito mais enérgico no terreno e tenta cumprimentar o maior número de pessoas numa acção de campanha. O líder do PSD e primeiro-ministro manteve muito do estilo de 2011 e não se importa de se demorar a debater com um único eleitor por mais de dez minutos. A campanha pode esperar. 

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