BE garante que moção não quer criar problema à maioria mas responder ao país

Jerónimo de Sousa recusa ser comentador do Bloco e está certo da renegociação da dívida.

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Catarina Martins falou sobre assédio moral no emprego Nuno Ferreira Santos

A porta-voz bloquista assegurou nesta quinta-feira que a moção que leva à convenção não é para criar nenhum problema à maioria parlamentar nem sequer uma resposta ao PS, mas sim o contributo dos bloquistas para o país.

"Não é uma moção para criar nenhum problema a uma maioria parlamentar que recupere rendimentos. É um contributo para uma estratégia para garantir que essa recuperação de rendimentos é sustentada no tempo", respondeu Catarina Martins aos jornalistas no Parlamento, à margem de uma audição pública sobre contratação colectiva.

Segundo a porta-voz do BE, a moção que apresenta à próxima convenção do partido "não é uma resposta ao PS, não é uma resposta à Comissão Europeia, não é uma resposta ao sistema financeiro", mas sim a resposta do Bloco de Esquerda para o país.

"A maioria parlamentar assenta na recuperação de rendimentos de trabalho e na protecção do Estado social. O sistema financeiro é um risco para essa estratégia. Não existir uma estratégia para a economia é um risco para essa estratégia. O BE não é um risco. O BE faz as propostas que são necessárias para proteger o país", assegurou.

A moção conjunta que as principais tendências do BE levam à próxima Convenção, em Junho, alerta que, sem uma nova estratégia, "não é possível" sustentar o "compromisso de recuperação de rendimentos em que assenta a maioria parlamentar".

"O Bloco trabalhou muito para uma maioria parlamentar que tirasse a direita do Governo e pudesse permitir a recuperação de rendimentos a quem vive do seu trabalho em Portugal. Não haverá nenhum partido tão determinado como o BE em que esse caminho seja possível ao longo da legislatura", garantiu.

Catarina Martins recordou que os bloquistas foram os primeiros a propor e a trabalhar para esta maioria e que todos os dias se empenham para que este novo arranjo parlamentar possa "recuperar rendimentos do trabalho".

"Somos um elemento de estabilidade e determinação nessa maioria para recuperação de rendimentos. Nada disso está em causa", insistiu, explicando que é preciso "olhar para o futuro" e ter "uma estratégia para a economia e para o sistema financeiro".

Sobre se o Bloco falou com o Governo sobre esta moção, a líder bloquista respondeu que "não tem muito sentido que assim seja", uma vez que os grupos de trabalho com o executivo "estão a discutir a renda apoiada, as rendas da energia, as questões da precariedade, e tantos temas para a vida concreta das pessoas".

Questionada se os bloquistas tiveram a oportunidade de "acalmar" as reacções à moção, Catarina Martins foi peremptória: "Alguém está a precisar de ser acalmado? Não me parece".

PCP prepara congresso

Já o secretário-geral do PCP recusou "ser comentador" do BE, sublinhou o "esforço" do PCP na convergência com o PS e mostrou-se convicto de que a renegociação da dívida será uma realidade.

À margem de uma visita a obras da autarquia de Almada, dirigida pela Coligação Democrática Unitária (PCP e "Verdes"), Jerónimo de Sousa vincou que os comunistas estão também "em fase de preparação do congresso (2-4 Dezembro, em Almada), numa ampla discussão e reflexão sobre o projecto de teses que vão ser apresentados".

"Compreenderão e perdoar-me-ão que tenha dificuldade em ser comentador em relação ao congresso de outros partidos, designadamente do BE. Não queria comentar. Avaliaremos, mas é uma decisão que compete apenas ao BE", respondeu.

Para o líder do PCP, "tendo em conta o grau de convergência e o nível de compromisso com o PS", há "um esforço para que haja resposta para aquilo que são anseios e aspirações manifestados pelos trabalhadores e o povo".

"Estes avanços que têm sido conseguidos são importantes. Não devemos perder nenhuma oportunidade para repor salários, direitos, criar condições para o crescimento e desenvolvimento económicos. Até aqui, esses compromissos têm sido assumidos. Da nossa parte, procuramos, de forma séria, honrá-los", garantiu.

Contudo, o PCP rejeita "esquecer a inevitável contradição que existe dos constrangimentos externos, particularmente os que resultam da União Europeia, do peso da dívida, do Tratado Orçamental, do Semestre Europeu".

A "expressão [dessa contradição] teve estes dois documentos que o Governo aprovou e dos quais nós nos demarcamos [Plano Nacional de Reformas e Programa de Estabilidade], frisou o secretário-geral do PCP, referindo que aqueles textos "acentuam essa contradição - não se pode ter sol na eira e chuva no nabal".

Questionado sobre a abertura do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares ao debate sobre os problemas da dívida e sua eventual renegociação, que Pedro Nuno Santos disse ter de ser feita "no quadro da União Europeia", em entrevista à RTP, Jerónimo de Sousa não tem dúvidas.

"A renegociação vai acontecer. A grande questão é saber se por iniciativa nossa - como devedores temos direitos - ou aceitar depois uma chamada renegociação imposta pelos credores", afirmou.

Para o líder do PCP, trata-se de "uma batalha que, naturalmente, não pode ser só" de Portugal isoladamente. "Por isso, a nossa proposta de uma conferência intergovernamental entre países que têm o mesmo problema que nós", lembrou.

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