Passos recebeu apoio inequívoco do PPE, Costa apenas ouviu uma palavra de Schulz

Jornada europeia dos dois possíveis primeiro-ministros serviu sobretudo para explicar situação política. Catarina Martins também reafirmou em Bruxelas o empenho do seu Bloco em participar numa solução.

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Pedro Passos Coelho foi eleito presidente do PSD em eleições directas em 26 de Março de 2010 Foto: Daniel Rocha

António Costa saiu do encontro com os chefes de Estado, primeiro-ministros, vice-primeiro ministros e comissários europeus socialistas reclamando para si a normalidade da sua conduta em Portugal. Na reunião “toda a gente” tinha achado “normal” e “até saudável” que uma solução governativa de compromisso à esquerda pudesse vir a acontecer em Portugal.<_o3a_p>

Mas durante o dia, foi Passos Coelho quem arrecadou mais explícitos apoios. O presidente do PPE, Joseph Daul, fez as despesas da direita europeia num comunicado subscrito do grupo. "Nós expressámos a nossa esperança de que PSD/CDS-PP, como os vencedores desta eleição, não sejam despojados da sua vitória e que eles sejam capazes de formar um Governo", afirmaram ao mesmo tempo que agitavam o fantasma da extrema-esquerda. "Os sacrifícios feitos pelo povo de Portugal não devem ser postos em causa por um governo composto por partidos com posições anti-União Europeia e anti-NATO.”

Ao PÚBLICO, o secretário General do PPE, Antonio López-Istúriz sublinhou que "o PPE está muito orgulhoso da vitória de Passos Coelho". E acrescentou: "Este é um momento crucial para Portugal. Nós temos que respeitar a decisão que for tomada, mas Passos Coelho devia continuar e concluir o seu trabalho durante os próximos quatro anos."

Por seu turno, a confirmação prática do apoio socialista foi mais limitada. Apenas Martin Schultz verbalizou o acolhimento à hipótese de um governo de esquerda. Martin Shultz considerou “absolutamente normal que o presidente de um partido da esquerda tente encontrar aliados à esquerda”, embora admitindo que neste momento é muito difícil em Portugal a formação de um governo, “tanto para o governo cessante como para o PS”.<_o3a_p>

Nos entretantos dos seus contactos, Costa repetia o seu mantra sobre o processo negocial, elogiando o esforço dos partidos da esquerda por oposição à postura dos partidos da direita.

“Há forças políticas que têm percebido que é preciso trabalhar para construir soluções de governo estável, e há outras, como o PSD e o CDS, que infelizmente, até agora, ainda não demonstraram ter compreendido o que é que significa os resultados eleitorais, e não têm feito os esforços suficientes para poderem contribuir para uma solução que crie estabilidade”, declarou Costa à chegada a uma reunião dos governantes socialistas europeus.

António Costa sublinhou que “esse esforço tem existido à esquerda, mas infelizmente não tem existido por parte da coligação de direita, e isso limita muito as soluções de governo que podemos ter no país”.<_o3a_p>

“Como é manifesto, a coligação de direita tem tido muitas dificuldades em adaptar-se ao novo quadro parlamentar e ainda não compreendeu que houve uma mudança muito significativa em Portugal: a maioria deixou de ser maioria, e não pode pretender governar como se nada tivesse acontecido”, acrescentou.<_o3a_p>

Mas na mesma altura em que Costa se aplicava na sua ofensiva diplomática, regressavam as manifestações de oposição no seu próprio partido. Francisco Assis, regressou de Bruxelas, para, numa entrevista, defender o PS numa posição menos proeminente. “Face à leitura dos resultados eleitorais, entendo que a melhor solução para o país é aquela que passa pelo Governo da coligação, com o PS a assumir claramente o papel de oposição na Assembleia da República e, naturalmente, estando disponível para dialogar permanentemente quer com os partidos situados à sua direita, quer com os partidos situados à sua esquerda.”<_o3a_p>

O posicionamento de Assis teve resposta do líder socialista. “Acho que os balanços se devem fazer no final das negociações e não vou sobretudo fazer comentários sobre quem, não estando a acompanhar as negociações, desconhece o que é que está a ser tratado, e fala muitas vezes como não tendo percepcionado que já há uma mudança muito importante”, disse António Costa.<_o3a_p>

Entretanto, mais uma facção socialista fez saber da sua oposição ao líder. Para lá da exigência de um Congresso, que está já prometido, a Corrente de Opinião Esquerda - liderada pelo ex-presidente da CCDR de Lisboa, Fonseca Ferreira – fez uma análise dos resultados eleitorais apontando responsabilidades directas a António Costa.

"Esta derrota é motivada, sobretudo, pelo défice de legitimidade ética da actual liderança, pelo seu sectarismo e ausência de uma estratégia clara. Os eleitores não se reconheceram nesta liderança, nem na manifesta errância política e programática da campanha realizada", fizeram saber através do comunicado onde classificaram Costa como “profundamente fragilizado”.

<_o3a_p>Bloco quer novas políticas
Também a porta-voz do Bloco de Esquerda (BE) reuniu-se nesta quinta-feira de manhã com a presidente do Grupo da Esquerda Unitária (GUE), em Bruxelas, cujas posições passam por contrariar a austeridade, tendo afirmado que podem ajudar nas soluções políticas para Portugal.

Após o encontro, no Parlamento Europeu, Catarina Martins afirmou que o GUE tem tido "posições muito claras sobre romper com a austeridade e de novas políticas para permitir que se ataquem problemas tão graves como o desemprego jovem". A dirigente recordou as posições de Gabriele Zimmer sobre a necessidade de "restruturação das dívidas de países periféricos do euro, políticas necessárias de estímulo económico e de investimento, que permitam criar emprego".

"Estas ligações são extraordinariamente importantes para o desenho das soluções para as quais estamos muito empenhados em Portugal", disse. Catarina Martins reafirmou o empenho do seu partido em participar num processo negocial para que "Portugal tenha um Governo possa fazer a recuperação dos rendimentos do trabalho".

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