Guerras e revoluções na origem de muitas dívidas não pagas ao FMI

A maioria dos países aos quais o FMI emprestou dinheiro acabaram por pagar, mesmo que muitos anos mais tarde. Apenas três continuam a dever.

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Alkis Konstantinidis/

A maior parte dos casos de incumprimento de Estados com o FMI deve-se a guerra, fome ou violência. A Grécia pediu o adiamento do pagamento de uma prestação ao Fundo Monetário Internacional usando um mecanismo previsto para dificuldades técnicas, uma decisão que foi vista como política. O facto de a única vez que este mecanismo foi usado ter sido com a Zâmbia nos anos 1980 é mais uma prova da singularidade do caso grego.

Se a Grécia não pagar no final do mês, será o primeiro caso de incumprimento de um país desenvolvido, sublinham analistas.

Alguns dos países devedores pagaram a dívida anos depois, outros nunca chegaram a pagar. O Zimbabwe é um dos casos mais recentes que não foram resolvidos. O país não pagou as prestações devidas em 2001, depois de uma série de falhanços de política causados sobretudo por um programa apressado de redistribuição de terras de fazendeiros brancos, diz a emissora especializada em questões económicas Bloomberg. De momento a dívida de Harare é de 111 milhões de dólares (quase 100 milhões de euros).

Há mais dois países que nunca pagaram: o Sudão, que deve actualmente 1,4 mil milhões de dólares (1,26 mil milhões de euros) por dívidas que deixou de pagar em 1984, e a Somália, que deve mais de 300 milhões de dólares (270 milhões de euros) sensivelmente desde 1985, ainda segundo a Bloomberg. Da restante lista de países que não pagaram publicada pelo diário The Guardian, os restantes 30 já pagaram.

É o caso, por exemplo, de Cuba: em 1958, quando nos últimos meses da ditadura de Batista o país devia 25 milhões de dólares (22,5 milhões de euros). Após a chegada de Fidel Castro ao poder, em 1959, o FMI foi adiando o prazo de pagamento, até 1963, quando iniciou procedimentos para que o país não pudesse receber mais empréstimos do fundo. O regime de Fidel pagou a dívida nos anos seguintes.

Na década de 1990, dois países muito diferentes pagaram as suas dívidas ao FMI. O primeiro foi as Honduras, que entrou em incumprimento no final dos anos 1980 por uma espécie de tempestade perfeita de descida das exportações por causa do decréscimo na procura de café, diminuição na ajuda estrangeira e acumulação de prazos de pagamento a vários credores. Depois de desvalorizar a sua moeda, o país pagou ao FMI em 1990. Já o Camboja pagou a sua dívida em 1993, após ter estado a dever 15 milhões de dólares (13,5 milhões de euros) à data em que os Khmer Vermelhos tomaram o poder, em 1975. 

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