Grécia pede adiamento de pagamento de prestação ao FMI que vence esta sexta-feira

Primeiro-ministro grego diz que não cederá a propostas extremas quando há uma revolta no seu partido contra o plano dos credores. Cada vez mais se fala em eleições antecipadas.

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Junker apresentou um "plano assassino", disse um alto responsável do Syriza Francois Lenoir/Reuters

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, vai esta sexta-feira ao Parlamento explicar o estado das negociações entre a Grécia e os credores, depois de uma semana dominada pela apresentação de planos rivais pelos dois lados. Mas as vozes críticas dentro do seu partido, o Syriza, já estavam a soar, cada vez mais alto, contra as propostas dos credores. Enquanto isso, Atenas pediu ao FMI para adiar o pagamento desta sexta-feira, uma decisão que foi vista como política.

Depois de muitos rumores sobre o cumprimento do pagamento do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Governo grego pediu ao Fundo para juntar a prestação que vence esta sexta-feira com as outras três de Junho num único pagamento no final do mês. O FMI tem um mecanismo do que permite juntar várias prestações, mas este é usado muito raramente: a última vez foi pela Zâmbia nos anos 1980, lembra o Guardian

A decisão foi vista como tática e não ditada por falta de liquidez, diz o Financial Times: aconteceu depois de Tsipras ter dito, na véspera, que não haveria problemas com este pagamento – contrariando vozes do seu partido que diziam que a prestação só seria paga se houvesse um acordo com os credores.

As primeiras páginas dos jornais gregos da manhã mostravam um pouco como as possíveis propostas dos credores estavam a ser recebidas no país: “Taxa de sangue necessária para um acordo”, dizia o conservador Ta Nea. “Exigências dos credores provocam fogo”, titulava o semanário (satírico) To Pontiki. Continuando nesta retórica, Alexis Mitroploulos, vice-presidente do Parlamento e alto responsável do Syriza, disse que “Juncker apresentou o plano mais assassino e mais duro quando todos esperavam que se aproximasse um acordo”, falando à estação de televisão Mega. “E isto numa altura em que estávamos finalmente a aproximar-nos de um acordo que todos queremos porque não queremos uma divisão que leve a uma tragédia.”

“Continuação de austeridade? Não obrigado”, dizia pelo seu lado o Avgi, o jornal do Syriza.

“Se as informações se confirmarem, obviamente não podemos aceitar [o acordo]”, disse Thodoris Dritsas, outro membro do Governo. As ofertas foram, “de todas as maneiras”, abaixo das expectativas. As propostas “ultrapassam cada uma das linhas vermelhas” do Governo grego, disse pelo seu lado o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, em entrevista à televisão britânica ITV.

Uma subida da taxa de IVA para bens alimentares e electricidade (actualmente a 6%) e o corte de um benefício para os reformados com baixo rendimentos que vai de 30 a 230 euros eram as mais citadas como ultrapassando em demasia qualquer linha vermelha. Fontes do Governo disseram ao site Capital Greece: “Se os credores insistirem, todas as opções ficam em aberto.”

O jornalista Paul Mason, do Channel Four da televisão britânica, notava que em Atenas há faixas coladas nas paredes de várias zonas dizendo “Nós merecemos melhor”.

“Negociar Waterloo”
A oposição grega está, enquanto isto,  num papel difícil. Por um lado quer mostrar que enquanto foi governo, também fez tudo para evitar concessões. Por outro, quer evitar eleições, que poderiam dar um resultado ainda melhor ao Syriza do que as antecipadas de Janeiro.

As conversações, disse o antecessor de Tsipras, Antonis Samaras, são como “negociar Waterloo”, a famosa derrota de Napoleão que levou à sua rendição. “Os credores pegaram em tudo o que quiseram durante os últimos anos, e que nós tentámos evitar, e puseram tudo numa proposta”, disse o porta-voz do grupo Parlamentar da Nova Democracia, o partido de Samaras. O antigo primeiro-ministro pediu, no entanto, a Tsipras para não ir a votos e a tentar em vez disso um consenso nacional com outros partidos políticos.

Anna Asimakopoulos, também da Nova Democracia, disse ao diário britânico The Guardian que para haver eleições são precisos pelo menos 27 dias – é preciso a dissolução do Governo e 21 dias até à votação. Isto faz com que um voto já caia depois de 30 de Junho – já depois de terem de ser feitos os pagamentos ao FMI e quando expira o actual memorando.

Quanto ao dilema político, Paul Mason diz que os credores prefeririam uma solução de governo de salvação nacional, em que Tsipras chamaria moderados do partido O Rio (To Potami) e eventualmente do PASOK (Partido Socialista), mas mesmo com estes elementos poderia não ter uma maioria. E a retórica do Governo tem sido focada na legitimidade democrática. A própria proposta grega já inclui várias concessões contra o que foi prometido na campanha; a proposta dos credores ainda mais.

Esta quinta-feira à noite Tsipras reúne-se com os seus ministros, na sexta ao final da tarde faz uma apresentação ao Parlamento. Após um esperado drama, ficará mais clara a posição de Tsipras e a sua margem dentro do partido e do Parlamento. Ontem, no Twitter, Tsipras garantia que o Governo “não vai aceitar propostas radicais”, num tweet acompanhado de uma foto sua com um ar grave. “Os gregos já sofreram o suficiente nos últimos cinco anos.”

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