Receitas dos certificados de testes de Cambridge permitiram pagar despesas

Empresas parceiras não entraram com qualquer verba para financiar exame. Instituto de Avaliação Educativa recusa clarificar montantes envolvidos.

Foto
São 111 mil os alunos que devem realizar esta quarta-feira a prova de Cambridge. Adriano Miranda

As receitas obtidas com os certificados dos testes Key for Schools, da Universidade de Cambridge, realizados em Abril do ano passado permitiram, pelo menos, pagar todas as despesas relacionadas com a realização daqueles exames. Tal permitiu que nenhuma das quatro empresas parceiras neste projecto (o BPI, a Connexall, a Novabase e a Porto Editora) tivesse que desembolsar qualquer verba.

Isso mesmo foi garantido ao PÚBLICO por Pedro Carvalho, que assinou o protocolo com o Instituto de Avaliação Educativa (Iave) como representante da Connexall, uma empresa de software com sede no Canadá. O Iave recusa-se a adiantar os montantes envolvidos neste projecto e a explicar porque é que os recibos do pagamento dos certificados, que custaram 25 euros à maioria dos certa de 20 mil alunos que o solicitaram, foram passados pela Fundação Bissaya Barreto, que não surge como parceira no protocolo de lançamento do projecto.

A fundação também se recusa a explicar esse facto, remetendo os esclarecimentos para o Iave, que diz ter sido o responsável pelas “conclusões e relatório final do projecto relativo ao ano lectivo 2013/2014”.

A Porto Editora e a Novabase também não responderam às perguntas do PÚBLICO, remetendo as resposta para o Iave. A Porto Editora enviou, no entanto, uma nota onde destaca “notória consciência social” da iniciativa e o facto de “permitir que todos os alunos possam aferir e consolidar os seus conhecimentos de língua inglesa num quadro de avaliação externa definido por uma instituição de prestígio internacional”.

O BPI não respondeu em tempo útil às perguntas do PÚBLICO. A excepção foi a Connexall. “A aplicação do protocolo não teve qualquer custo para a empresa. Custo zero”, adiantou Pedro Carvalho, que explica que os parceiros assumiam o risco financeiro do projecto, na mesma quota-parte, se o mesmo não se revelasse auto-sustentável. “Caso as receitas previstas, provenientes da emissão dos certificados, não fossem suficientes para custear o projecto, os parceiros assumiriam os valores em falta, a título de mecenato”, precisa Pedro Carvalho.

O responsável da Connexall, que possui uma representação em Ponta Delgada, nos Açores, insiste que a empresa não tinha qualquer interesse comercial neste projecto, tendo integrado a lista de parceiros apenas porque tem um interesse particular na aprendizagem do inglês, a língua oficial da firma.  E garante não saber quanto foi pago à Cambridge English Language Assessment, com quem nunca manteve “qualquer relação directa”.

Sem avançar uma razão de fundo, Pedro Carvalho diz que a Connexall deixou a parceria no final do ano lectivo 2013/2014, quando o Ministério da Educação decidiu substituir o teste Key for Schools, pelo exame com um grau de dificuldade acima, o PET (Preliminary English Test). É precisamente a componente escrita deste teste que deverá ser realizada esta quarta-feira por 111 mil alunos. Isto se a greve de professores convocada pela Fenprof não perturbar a realização da prova. O prazo para a realização da componente oral do teste decorre até 22 de Maio.

Sensivelmente ao mesmo tempo que os alunos realizam a prova, responsáveis da Fenprof dirigem-se à Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ para entregar mais elementos relacionados com o caso. O Iave, apenas esclarece num email, que “até ao momento não foi notificado de nada nem lhe foi solicitada qualquer documentação” no âmbito deste processo. Também a Connexall e a Porto Editora informam não terem sido contactadas pela PJ, dizendo-se disponíveis para colaborar na investigação.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários