Venda de carros eléctricos duplica em Portugal mas ainda é mínima

País permanece em terceiro lugar no ranking europeu dos automóveis com menores emissões de CO2.

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As vendas de carros eléctricos em Portugal duplicaram nos dois primeiros meses deste ano, possivelmente devido a novos incentivos fiscais introduzidos a partir de Janeiro. Mas ainda são ínfimas: apenas um em cada 500 automóveis ligeiros novo é eléctrico.

Em números absolutos, houve 52 carros eléctricos entre os cerca de 26.000 ligeiros de passageiros comercializados em Janeiro e Fevereiro, segundo dados da Acap-Associação Automóvel de Portugal. No ano passado, no mesmo período, foram vendidos ainda menos carros eléctricos: 27, cerca de metade.

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A fraca penetração dos carros eléctricos não é exclusiva de Portugal. Em toda a União Europeia representaram apenas 0,3% dos carros novos em 2014. Foram vendidos cerca de 38 mil automóveis ligeiros movidos a electricidade, dois terços dos quais em apenas três países: França (10.730), Alemanha (8575) e Reino Unido (6692), de acordo com dados publicados esta quarta-feira pela Agência Europeia do Ambiente. Em Portugal, foram 196.

No ano passado, o Governo adoptou duas medidas estruturais para acelerar a introdução dos carros eléctricos no país. Uma delas foi a alteração do quadro legal da mobilidade eléctrica, facilitando a instalação de pontos de carregamento em espaços privados, como edifícios, condomínios e centros comerciais, e promovendo a concorrência nesse mercado.

Portugal já tinha uma rede piloto de cerca de 1300 pontos de carregamento, instalada nos últimos anos. “Estamos a detectar que há problemas de manutenção. Há muitas avarias e há também estacionamento indevido nestes pontos de abastecimento”, queixa-se, porém, o secretário-geral da Acap, Hélder Pedro.

Outra medida para promover a mobilidade eléctrica foi a introdução de um desconto de 4500 euros no Imposto sobre Veículos (ISV), para quem se desfaz de um carro velho em troca de um novo eléctrico. Para carros eléctricos plug-in – que são abastecidos numa ficha mas também têm um motor a combustão interna – o benefício é de 3250 euros.

Em vigor desde Janeiro, estes incentivos podem justificar a subida relativa das vendas de carros eléctricos. É isso o que o sector automóvel esperaria. “A ideia é que em 2015 houvesse um aumento significativo. Teríamos de passar das 1000 unidades”, afirma Hélder Pedro. Se os valores de Janeiro e Fevereiro se mantiverem, os carros eléctricos vendidos pouco superarão as três centenas.

O sucesso dos carros eléctricos é essencial para que seja cumprida uma meta europeia fixada em 2009: a de que os carros novos em 2021 lancem, em média, 95 gramas de CO2 por quilómetro rodado.

Até agora, a situação tem vindo a evoluir a um bom ritmo. Os 12,5 milhões de automóveis ligeiros vendidos na Europa em 2014 emitiam, em média, 123,4 gramas de CO2 por quilómetro rodado. Houve uma queda de 2,6% em relação a 2013 e de 12% em relação a 2010.

Uma meta intermediária de 130 gramas por quilómetro até 2015 está já ultrapassada. A meta de 2021 vai requerer um esforço adicional dos fabricantes.

A dúvida que existe é até que ponto a tecnologia dos motores de combustão interna, que queimam gasóleo e gasolina, poderá avançar para atingir os 95 gramas por quilómetro. “Não podemos fiar-nos apenas nos automóveis convencionais”, afirma Cinzia Pastorello, especialista da Agência Europeia do Ambiente na área das emissões poluentes. “Não sabemos ainda o que os construtores poderão colocar em prática”, acrescenta.

Os veículos alternativos, sobretudo os eléctricos puros e os eléctricos plug-in, são por isso essenciais. “O seu benefício depende, no entanto, de como a electricidade é produzida”, alerta Pastorello. Em Portugal, onde a maior parte da produção eléctrica já é renovável, as emissões indirectas serão menores. Já na Polónia, por exemplo, a situação será outra, pois 90% da electricidade vem de centrais termoeléctricas a carvão e gás natural.

Segundo os números divulgados pela Agência Europeia do Ambiente, Portugal mantém-se como o terceiro país com menores emissões de CO2 nos carros novos. O valor caiu de 112,2 gramas por quilómetros em 2013 para 108,8 em 2014.

A grande maioria dos automóveis vendidos (71%) é de carros a gasóleo, que emitem menos CO2. O resto é a gasolina, excepto uma minúscula fatia de veículos a gás de petróleo liquefeito e eléctricos. 

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