EUA dizem que Estado Islâmico perdeu um quarto do território no Iraque

Primeiro-ministro iraquiano está em Washington para pedir mais ajuda à Casa Branca, ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial.

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É a primeira visita do primeiro-ministro Haider al-Abadi aos EUA Jonathan Ernst/Reuters

O primeiro-ministro iraquiano chegou esta semana a Washington para pedir ao Presidente norte-americano que abra mais os cordões à bolsa, com os olhos postos na luta contra o autoproclamado Estado Islâmico, mas também no futuro do seu país. A visita começou horas depois de o Pentágono ter anunciado que a coligação internacional recuperou um quarto do território ocupado pelos jihadistas.

Esta é a primeira visita de Haider al-Abadi à Casa Branca desde que assumiu a chefia do Governo iraquiano, há pouco mais de sete meses. Desde então, os dois países têm tentado reconstruir uma relação de confiança, que foi quebrada durante os últimos anos do Governo do xiita Nuri al-Maliki, acusado de alienar a minoria sunita e, dessa forma, facilitar o avanço dos jihadistas.

No final da reunião na Casa Branca, o máximo que os jornalistas conseguiram apurar foi que o primeiro-ministro iraquiano não fez qualquer "pedido específico de ajuda militar".

No Verão passado, uma coligação internacional liderada pelos EUA começou a bombardear as zonas controladas pelo Estado Islâmico no Norte do Iraque, numa campanha que parece começar agora a apresentar resultados – na segunda-feira, o Pentágono anunciou que os islamistas perderam entre 25% e 30% do território que controlavam antes do início dos bombardeamentos.

"A combinação entre o poder aéreo da coligação e as forças terrestres iraquianas está a prejudicar a capacidade do inimigo para manter território e a sua liberdade de movimentos", disse o coronel Steve Warren, porta-voz do Pentágono.

Segundo as estimativas dos militares norte-americanos – baseadas "num conjunto de fontes consideradas confiáveis", como se lê no relatório apresentado esta semana –, os jihadistas do Estado Islâmico terão perdido entre 12.950 e 15.540 quilómetros quadrados desde o pico da sua influência no Iraque, em Agosto de 2014.

Apesar das declarações optimistas por parte da coligação internacional, o pequeno texto que acompanha o mapa divulgado pelo Pentágono sobre a actual situação no terreno deixa um aviso: "No entanto, devido à natureza dinâmica do conflito no Iraque e na Síria, esta estimativa pode aumentar ou diminuir, dependendo das flutuações diárias nas linhas de batalha" – em resumo, tudo o que foi conquistado ao Estado Islâmico até agora pode voltar a ser perdido de um momento para o outro. Para além disso, a influência dos jihadistas na vizinha Síria "permanece de uma forma geral inalterada".

É neste contexto de pequenas vitórias a curto prazo e muitas dúvidas em relação ao futuro que o primeiro-ministro iraquiano chega a Washington. A visita tem dois objectivos: por um lado, convencer o Presidente Barack Obama a enviar mais armamento e drones de vigilância; por outro, negociar com instituições como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial a concessão de novos empréstimos, para fazer face aos 22 mil milhões de dólares de défice no Orçamento para este ano.

São duas tarefas complicadas, mas a primeira roça o impossível – não só porque o reforço da ajuda militar depende também do Congresso, mas porque o Presidente Barack Obama quer evitar uma escalada do envolvimento norte-americano.

"Os EUA não estão dispostos a reforçar o apoio militar. Não é claro que consigam alocar verbas do Orçamento para esse fim", disse à agência Reuters Anthony Cordesman, especialista em relações internacionais no Center for Strategic & International Studies, em Washington.

O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnst, pôs a tónica na colaboração entre os dois países, mas não se comprometeu com o reforço do acordo. "Se o primeiro-ministro Abadi tiver ideias específicas sobre o reforço da assistência, então é óbvio que iremos discuti-las com seriedade. O objectivo é manter a profunda coordenação que já existe entre os EUA e o Iraque", disse o porta-voz.

Ainda mais complicada do que o apoio militar e financeiro é a questão do envolvimento de milícias xiitas na luta contra o Estado Islâmico. Em causa estão os combates em Ramadi, na província de Anbar, de maioria sunita, onde actuam várias milícias xiitas apoiadas pelo Irão – uns e outros lutam contra os radicais islâmicos, mas os EUA temem que a presença de milícias xiitas na região leve mais sunitas a apoiar os jihadistas.

No fim-de-semana passado, o embaixador norte-americano em Bagdad, Stuart E. Jones, reuniu-se com os representantes do Governo iraquiano em Anbar para lhes dizer que os bombardeamentos norte-americanos só iriam continuar se as milícias xiitas fossem retiradas da equação – depois de terem obtido essa garantia, "os americanos lançaram ataques aéreos mais fortes do que o habitual", escreve o The New York Times.

O mesmo jornal cita um responsável da delegação iraquiana presente em Washington para resumir o objectivo da visita de Haider al-Abadi: "O primeiro-ministro quer agradecer aos americanos, mas quer também perceber a dimensão do apoio que poderá receber."

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